Teófilo Azevedo Filho nasceu 02 de julho de 1943 em Alto Belo, município de Bocaiúva, no estado de Minas Gerais.
Seu pai, Teófilo Izidoro de Azevedo (1905-1951), foi lavrador, aboiador, ferreiro, tropeiro, pequeno comerciante, folião de Reis, seresteiro, cantador popular e repentista. Também foi violeiro legendário, mesmo tendo somente um braço, pois perdeu o outro braço devido a um tiro de espingarda durante uma caçada a veados. E, com a Viola, "gerou lenda" que foi inclusive tema do poema "Viola de Bolso" de Carlos Drummond de Andrade.
Buscando melhores condições de vida, Téo Azevedo se mudou juntamente com a família para o interior paulista em 1951. Por ironia do destino, no entanto, Seu Teófilo faleceu devido à febre tifóide que havia contraído. A família então se viu obrigada a regressar para o Alto Belo no norte mineiro.
E, com as conseqüentes dificuldades enfrentadas pela família, Téo Azevedo concluiu somente o primeiro ano primário e passou a trabalhar como engraxate para ajudar sua mãe, dona Clemência. Isso em Montes Claros, e Téo com apenas 8 anos de idade. Enquanto engraxava sapatos, Téo recitava versos de improviso para atrair clientes.
Foi nesse período que começou a cantar repentes e a participar de concursos de calouros em circos e parques. E, dos 9 aos 14 anos de idade, cantando calangos, Téo acompanhou o camelô Antônio Salvino, do estado de Pernambuco, que vendia remédios caseiros a base de ervas, naquelas feiras interioranas. Téo se apresentava com uma jibóia enrolada no pescoço, cantando calangos de improviso para atrair a clientela. Salvino é por muitos considerado como o descobridor de Téo Azevedo.
Com 16 anos, seguiu de carona para Belo Horizonte, passando se apresentar nas ruas como repentista e vendendo também Cordéis de sua autoria nas feiras livres da cidade. Na capital mineira, porém, chegou a ser preso por vadiagem. Apresentando sua defesa, Téo cantou um repente no qual ele dizia que é crime prender um cantador..., o que lhe valeu algo como um salvo-conduto para poder continuar cantando nas ruas de Belo Horizonte.
Com 17 anos, Téo Azevedo começou a lutar boxe e chegou a ser tri-campeão mineiro. E foi nessa época, no início dos anos 60, que começou a cantar seus repentes em casas de shows da capital mineira, tendo criado um estilo de dançar gafieira (batizado como "Puladinho" pelo sambista Kalu). Fundou também a Escola de Samba "Unidos do Guarani" e participou ainda do conjunto de shows e bailes "Léo Bahia e os Embalos".
Téo Azevedo gravou o primeiro disco no ano de 1965, no estúdio Discobel, interpretando "Deus Te Salve, Casa Santa" (Domínio Público) tendo composto mais três estrofes e mudado a melodia tradicional cantada no norte de Minas Gerais. Essa música de autor desconhecido é na verdade o que também conhecemos como "Cálix Bento" (adaptado por Tavinho Moura).
Três anos depois, em 1968, Téo Azevedo foi considerado por Gérson Evangelista (cronista do jornal mineiro "O Debate") como "O Melhor Compositor Mineiro do Ano". Em 1969, Téo seguiu para a capital paulista, onde aprendeu todas as modalidades de cantoria do Nordeste com o cantador alagoano Guaiatã de Coqueiros.
Nas movimentadíssimas ruas da capital paulista, Téo Azevedo corria o chapéu entre os ouvintes. E, na Feira de Arte da Praça da República (criada pelo alagoano Antônio Deodato, que era conhecido também como Deodato Santeiro), Téo cantava com Alceu Valença que na época também iniciava sua carreira artística. Também em São Paulo, Téo chegou a fazer parceria com o Venâncio da dupla "Venâncio e Corumbá".
Téo lançou em 1978 o LP "Brasil, Terra da Gente", no qual gravou a música "Viola de Bolso", na qual ele transpôs versos de Carlos Drummond de Andrade para o ritmo das Folias de Reis. E, no mesmo ano, com a composição "Ternos Pingos da Saudade", Téo recebeu o prêmio de melhor melodia, melhor letra e melhor interpretação no Primeiro Festival de Música Sertaneja, evento promovido pela Rádio Record de São Paulo.
Em 1979, Téo participou da abertura da Feira do Livro na Praça 7 de Setembro. Em seguida, foi convidado para gravar "jingles" e "spots" no lançamento do primeiro Torneio de Repentes de Minas Gerais.
No dia 07 de janeiro de 1980, Téo Azevedo fundou a ARPPNM (Associação dos Repentistas e Poetas Populares do Norte de Minas), juntamente com Amelina Chaves, Jason de Morais, Josece Alves, Silva Neto, Pau Terra, João Martins e o grupo Agreste. Téo foi Presidente da ARPPNM e doou para a mesma todos os Direitos Autorais das obras de Domínio Público por ele recolhidas e adaptadas.
Além de mais de 10 discos gravados, nos quais Téo Azevedo tem divulgado os mais variados ritmos da cultura do norte mineiro, como calango, coco de viola, lundu, guaiano, chula campeira, repente e toada de Alto Belo, também tem participações especiais em discos de diversos cantadores, como Rolando Boldrin e Luiz Gonzaga.
Téo Azevedo também musicou um programa especial sobre Guimarães Rosa para a Rádio Cultura FM de São Paulo. Musicou também dois especiais para a TV Alemã (um sobre "Grande Sertão, Veredas" de Guimarães Rosa e outro sobre "Cantigas de Vaqueiros e Repentistas"), além de ter feito música para as peças teatrais "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", também de Guimarães Rosa, e "Festa na Roça", de Martins Pena.
E a musicalidade de Téo Azevedo também atravessou nossas fronteiras: em 1997, interpretou "For Bobby Keys (Music and Life)", versão de Michael Grossmann, no disco do saxofonista Bobby Keys (Rolling Stones). E, no mesmo ano, gravou juntamente com o gaitista de Blues Charlie Musselwhite a música "Puxe o Fole, Sanfoneiro Dominguinhos Tocador", a qual foi apontada como tendo sido a melhor do respectivo CD.
Téo Azevedo ultrapassa as 1500 canções, gravadas por diversos intérpretes, e foi também Mestre de Folia de Reis durante 30 anos, tendo sido um dos criadores do "Terno de Folia de Alto Belo", com o qual chegou a participar da novela "Serras Azuis", da Rede Bandeirantes, em 1998. Promove anualmente a "Festança de Alto Belo", considerada a maior festa de Folia de Reis do Brasil.
Escreveu diversos livros, sendo que o primeiro deles foi "Literatura Popular do Norte de Minas". Também escreveu, "Plantas Medicinais e Benzeduras", "Cultura Popular do Norte de Minas", "A Folia de Reis no Norte de Minas", "Abecedário Matuto", "Repente Folclore", "Tiófo, O Cantador de um Braço Só", "Dicionário Catrumano (Pequeno Glossário de Locuções Regionais)", "As Plantas que Curam" e "Versos de Rodeio".
Isso tudo, sem falar na Literatura de Cordel, da qual Téo Azevedo escreveu mais de mil estórias! É considerado como sendo um dos últimos, senão o último, elemento vivo do Cordel mineiro, que se manifesta com toda pujança e força de expressão, além da manifestação comunicacional e artística. Seus livros de Cordel já foram tema de estudos em universidades diversas, como Arizona (Estados Unidos), Osaka (Japão) e Sorbonne (França), além de sua obra já ter também originado uma Tese de Doutorado na Universidade de Colônia (Köln) na Alemanha.
Téo Azevedo também faz palestras periódicas sobre cultura popular em diversas faculdades brasileiras, além de já ter feito conferências sobre o mesmo tema em Portugal, país onde também chegou a realizar uma apresentação no Teatro da Ilha da Madeira.
Texto: Sandra Cristina Peripato |