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ORLANDO GOMES

 

Orlando Gomes Araújo, nasceu em Portugal, na cidade de Viana do Castelo e em 1954, e com 12 anos, veio para o Brasil. Sua família já tinha parentes na região de Alto Alegre, e resolveu tentar a vida além-mar. Naquela época, o pequeno "gajo" carpia café e outros serviços relacionados à roça. Orlando já fez de tudo um pouco na vida. Já teve seu escritório de cobranças, trabalhou comprando ossos e ferro-velho na rua, além de outros pequenos serviços. A fotografia sempre foi uma paixão. Desde seus 16 anos já tinha sua máquina à tiracolo e registrava tudo. Este grande artista já tirou milhares de fotos do cotidiano da cidade, seja de pessoas desconhecidas, políticos, artistas, etc. Sempre que há algo novo, lá está Orlando e sua máquina de registrar o dia a dia. Uma foto que o Orlando tinha muito carinho, traz o já saudoso ex-prefeito de Penápolis, Benone Soares de Queiroz, posando antes de uma partida de futebol. A maioria de seu extenso trabalho só está nos negativos, já que vem registrando o cotidiano da vida penapolense há cerca de quarenta anos.
Além de um competente fotógrafo, Orlando Gomes já se aventurou no mundo da música. Como sempre gostou de escrever poesias, se dispôs a fazer composições após uma grande coincidência. Certo dia, indo para a casa dos pais na capital carioca, pernoitou em um hotel em São Paulo. Coincidentemente, era aonde cantores sertanejos como Lourenço e Lourival, Leôncio e Leonel, Tião Carreiro e Pardinho, tinham dois quartos só para ensaios. Entusiasmado com os sertanejos, mostrou algumas de suas poesias e eles gostaram tanto, que acabaram gravando algumas, como "Menina Triste", "Condenado Por Amor", entre outras. Foram cerca de 25 letras gravadas que têm seu nome nos créditos. Existem outras tantas que o compositor vendeu integralmente.
Dentre suas composições, uma das mais famosas é "Condenado Por Amor", gravada primeiramente por Leôncio e Leonel, depois regravada por Lourenço e Lourival.
"Eu era um bom compositor desde que tivesse minha "biritinha" para me dar inspiração", brincava Orlando. De fato, na década de 70, auge de sua fase criativa, a cidade tinha uma vida boêmia conhecida e apreciada.
Ele sempre chegava de suas viagens e ficava nos bares para rever os amigos. Na época, Bar Tabu era o ponto de encontro dos boêmios de plantão. Certa noite, o TAE (Teatro Amador dos Estudantes) estava com sua trupe lá e foi onde ele conheceu Fladir Valente. Ela, sabendo que ele conhecia muitas músicas, lhe perguntou se ele já ouvira uma linda canção chamada "Garota Triste". "Sim, fui eu quem compôs". Daquele dia em diante, começaram a namorar e posteriormente se casaram.
O Bar e Restaurante Tabu foi "residência" e "escritório" de Orlando por muito tempo. Fazia diariamente poesias e as vendia no Bar em troca do almoço. Publicava-as no jornal com apoio do restaurante, garantindo assim seu sustento e seus aperitivos. Apesar da poesia e do olhar poético serem inerentes, o mundo o modificou muito. Acompanhar muito a trajetória política da cidade e as decepções da vida, fizeram o poeta entristecer. "Não é o mundo que eu pensei que era. Não há poeta que não se desencanta com nossa realidade", dizia Orlando.
Em 17 de dezembro de 1961 aconteceu, em Niterói, um incêndio de proporções gigantescas no Gran-Circus Norte-Americano. Foram calcinadas cerca de 400 pessoas, entre elas, muitas crianças. O governo da Argentina, cujo presidente na época era Arturo Fondizi, foi solidário e mandou para o Rio de Janeiro muito sangue e pele humana para salvar as vítimas. O governador carioca Roberto Silveira, sensibilizado com o auxílio, mandou uma carta de agradecimento através de um jovem que adorava viajar: Orlando Gomes, que na época visitava os pais no Rio, se aventurou em uma viagem de bicicleta de Niterói até Buenos Aires. Conheceu o presidente do país vizinho e voltou. Antes disso, acabou conhecendo toda a América do Sul de bicicleta. Foram 2 anos, 3 meses e 17 dias viajando e conhecendo lugares históricos como a cidade de Machu Picchu, no Peru ou o lago Titicaca. Quando voltou ao Brasil, já era 1964 e começara a revolução em nosso país. Ele e sua esposa quase repetiram a façanha quando se casaram: compraram uma moto Yamaha 50 cilindradas para viajaram mundo afora, porém não foi possível.
Apaixonado como todo bom poeta, o Orlando considerava Fladir Valente não somente sua esposa, mas um anjo protetor e esclarecedor. "Tenho um profundo respeito por minha companheira. Sou um eterno aluno dela. Ela também escrevia poesias em jornais, temos muito a ver um com o outro", lembrava. Ambos tiveram dois filhos (Juliana e Rodolfo) e um neto (Guilherme).
Em uma vida tão fascinante, Orlando só se arrependia de não ter, em sua juventude, apreciado mais o que viu. "Temos, na juventude, uma cegueira que esconde as belezas da vida". Porém, a beleza está em todo lugar. Nas pequenas coisas, no entardecer, no cafezinho com os amigos e nas suas fotos, que apreendem, em cada flash, uma memória única. Uma história gigantesca em cada imagem. Coisas que só os olhos do poeta conseguem entender e decifrar.
Orlando Gomes faleceu aos 67 anos, em 19 de abril de 2010 às 04h30, na Santa Casa de Penápolis, vítima de complicações renais.

Texto: Sandra Cristina Peripato

Fonte: Jornal Interior - Penápolis/SP

 

MÚSICAS DE AUTORIA DE ORLANDO GOMES

 

- Condenado Por Amor - Souza e Orlando Gomes
- Garota Triste - Miltinho Rodrigues e Orlando Gomes
- Gatinha dos Olhos Tristes - Miltinho Rodrigues e Orlando Gomes
- Lembranças de Amor - Orlando Gomes e Miltinho Rodrigues
- Noite Fria - Orlando Gomes e Miltinho Rodrigues
- Prego Velho - Priminho e Orlando Gomes
- Que Seria - Miltinho e Orlando Gomes
- Sagrado Juramento - Zilo e Orlando Gomes