Joubert Gontijo de Carvalho nasceu em Uberaba, no estado de Minas Gerais, no dia 06 de março de 1900 e faleceu no dia 20 de setembro de 1977 no Rio de Janeiro/RJ. Filho do fazendeiro Tobias de Carvalho e de Dona Francisca Gontijo de Carvalho, casal que teve treze filhos.
Joubert aprendeu a tocar de ouvido o piano que seu pai havia comprado quando ele tinha 9 anos de idade; interpretava os dobrados que ouvia, e que eram tocados pela banda local.
Quando se mudou com a família para São Paulo/SP, (pois o Sr. Tobias fazia questão de uma excelente educação e formação dos filhos que foram estudar no Ginásio São Bento), Joubert chegou a compor uma valsa intitulada “Cruz Vermelha”, a qual teve a renda revertida para a instituição homenageada. Estava no início da adolescência e o relativo sucesso obtido incentivou o menino para a música.
Em 1919, mudou-se para o Rio de Janeiro/RJ, onde estudou Medicina e também fez sucesso com o fox “Príncipe”, composição gravada em 1922, que foi o ano do Centenário da Independência do Brasil.
Concluiu o curso universitário em 1925 e defendeu a tese intitulada "Sopros Musicais do Coração"; foi aprovado com distinção, apesar do título humorístico da tese. E, mesmo com o exercício da profissão, continuou com as composições musicais ao piano e a publicação das mesmas, as quais faziam sucesso entre os editores.
Casou-se dois anos depois de formado com Elza Faria com quem teve o filho Fernando Antonio. E foi também por essa época, em 1928 que Joubert musicou dois poemas de Olegário Mariano ("Cai, Cai Balão" e "Tutu Marambá"), e iniciou com ele uma parceria de mais de vinte músicas.
Alcançou o primeiro sucesso nacional com a música “Ta-Hi (Pra Você Gostar de Mim)”, gravada em 1930 pela Carmen Miranda. A vendagem foi de 35.000 discos, quando na época, os grandes cantores vendiam, no máximo, algo em torno de 1.000 discos.
Entre seus sucessos destacam-se “De Papo Pro Á” (1931) e “Maringá”, que foi composta em 1932, que tinha como tema a seca do Nordeste brasileiro. Foi gravada inicialmente por Gastão Formenti e depois seguiram-se diversas outras gravações, inclusive em vários outros países.
Maringá nasceu de um aceno de adeus. A canção que emprestou seu nome ao município, foi inspirada num fato ocorrido em Pombal, na Paraíba, na década de 20. Uma família de retirantes arruma seus poucos pertences em um pau-de-arara. Um jovem casal se despede. Ela, deixaria a cidade junto com a miserável família para tentar uma vida melhor em São Paulo. Era a família da cabocla Maria do Ingá. Ele, um jovem mais triste ainda. Sem dinheiro, não tinha condições de embarcar no caminhão. Todas as economias daquela família eram mínimas para a longa viagem. Não haveria espaço para mais um corpo franzino. E muito menos para mais uma boca. O pau-de-arara parte, deixando no ar o último toque de mãos entre Maria e o namorado. Ele corre atrás do caminhão, armazenando todo o fôlego possível até desistir, em meio a poeira. Não há registros sobre o nome do caboclo que ficou.
No bar próximo, um grupo de amigos assistia a cena. Comovidos, chegaram a recolher moedas perdidas nos bolsos, mas poucos réis não seriam suficientes para cobrir os gastos da viagem ou para conformar os corações daqueles jovens separados pela miséria.
Eles conheciam Maria. Ela morava numa região conhecida como Ingá, nas margens do Rio Piranhas. Daí o seu nome. Moça prendada, desde os 12 anos já preparava pratos típicos. Com um sorriso encantador, era a alegria da centenária cidade paraibana até o dia do adeus parado no tempo.
Enquanto isso no Rio de Janeiro, capital da República, em 1930, Joubert Gontijo de Carvalho, um mineiro recém-formado em Medicina na capital federal e apaixonado por música e versos. O pai, Tobias de Carvalho, sempre o aconselhou a ficar afastado dos pianos e violões. Na aristocrática família Carvalho só eram permitidos médicos ou advogados.
Joubert passava por um momento difícil. Recém-formado em medicina, lhe assustava o fato de gostar mais do piano do que do bisturi. Porém, nunca foi um boêmio. Apesar de ter estudado medicina a pedido do pai, sempre se destacou como um aluno exemplar. Ao contrário de Noel Rosa, boêmio inveterado. Esse já havia tomado o rumo da boemia ao abandonar precocemente o curso de medicina.
Mas Joubert não podia se dar a esse luxo. A sombra paterna parecia segurar a sua mão antes de ameaçar qualquer nota no violão. Necessitava de um emprego seguro. E foi em um anúncio de jornal que descobriu a existência de uma vaga para médico no Ministério de Viação e Obras Públicas.
Na época não existiam concursos públicos. Joubert recorreu, então, ao amigo, poeta e político Rui Carneiro, chefe de gabinete do ministro da viação, José Américo de Almeida, o qual sugeriu que fizesse uma canção falando da seca no Nordeste.
José Américo é natural da cidade de Areias, e Rui Carneiro da cidade de Pombal, a qual trouxe inspiração a Joubert, surgindo o verso: “Antigamente uma alegria sem igual dominava aquela gente da cidade de Pombal... mas veio a seca toda chuva foi-se embora, só restando então as águas dos meus óios quando chora...”
A canção surgiu ali, na sala de espera do gabinete. Joubert também queria saber de uma cidade do Nordeste em que a seca foi tremenda. Rui citou várias, inclusive Maria do Ingá, interior da Paraíba, distante 87 quilômetros de João Pessoa.
Independente da música, o médico garantiu a vaga no Ministério, conseguiu satisfazer a vontade do pai e ao mesmo tempo pôde se dedicar à música. Joubert chegou a ser nomeado em 1933, para o cargo de médico do Instituto dos Marítimos, onde fez carreira, chegando a ser diretor do hospital.
A homenagem, porém, ficaria para o amigo Rui, ilustre filho da cidade de Pombal, também na Paraíba. Foi ele mesmo que teria contado para Joubert, durante uma conversa em um bar no centro do Rio, a triste história de uma cabocla chamada Maria do Ingá.
Joubert ficou emocionado com o relato sobre a família de retirantes e do desespero do namorado de Maria, deixado em Pombal. Mas seria tudo aquilo verdade ou lenda? Rui, então, revelou. Ele era um dos rapazes que estava no bar, uma das testemunhas do adeus. Provavelmente, foi o próprio amigo de Joubert quem batizou a triste moça de Maria do Ingá, também inspirado na lenda de uma cabocla conhecida com este nome, vítima da terrível seca em 1877. Convencido, Joubert partiu para o escritório a fim de terminar a composição.
Varou a madrugada compondo a toada. O refrão estava pronto: “Maria do Ingá, Maria do Ingá, depois que tu partiste tudo aqui ficou tão triste que eu fiquei a imaginá”. Não, não estava bom. “Maringá, Maringá, depois que tu partiste...” Foi o último retoque. A obra-prima estava pronta.
“Prezados ouvintes, vamos ouvir agora a composição Maringá, de Joubert de Carvalho na voz de Gastão Formenti”, anunciava o locutor da rádio carioca em meados de 1932. A toada tomaria conta do Brasil e dividiria as paradas ao lado da marchinha "O Teu Cabelo Não Nega" (Irmãos Valença e Lamartine Babo) e do bolerão “Aquellos Ojos Verdes”.
Durante algum tempo, muitos atribuíam que a letra de Maringá fosse do poeta Olegário Mariano, também parceiro de Joubert em outro clássico, “De Papo Pro Ar”, porém esta hipótese fora descartada.
A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná explorava a região e colocava à venda as glebas que lhe pertenciam, implantando núcleos urbanos. Famílias inteiras derrubavam as matas. Tempos difíceis. As poucas horas de lazer, porém, eram dedicadas aos bailes improvisados. Se escutava muita toada...
Em 1947, Elizabeth Thomas, esposa do presidente da Companhia Melhoramentos, sugeriu que a composição desse nome à cidade recém-construída pela empresa. Foi um fato inusitado. Em todos os países do mundo, cidades emprestam seus nomes a canções. Raro, no entanto, uma canção dar origem a uma cidade. Sobre a mesa dos engenheiros da empresa, os rascunhos tinham um novo nome: Projeto Maringá.
Em 1959, Joubert visitou Maringá para inaugurar a antiga Rua Bandeirantes, que passou a receber o nome dele. Dez anos depois, ele recebeu um convite do então prefeito de Maringá, Adriano José Valente, para ser o embaixador de Maringá no estado da Guanabara. Aceitou na hora e ainda retribuiu com a música “A Cidade que Virou Canção”.
Além de grandes intérpretes e duplas caipiras que gravaram sucessos como “De Papo Pro Á” e “Maringá”, a obra de Joubert de Carvalho também foi gravada por diversos outros intérpretes da MPB.
Joubert de Carvalho nunca foi de beber, e também nunca foi boêmio; bares e botecos não o atraíam. Era uma homem culto e refinado e, além de mais de 700 composições editadas, também escreveu o romance "Espírito e Sexo". E como médico, também foi muito talentoso e um dos pioneiros no Brasil na Medicina Psicossomática. Participou de diversas entidades de Defesa dos Direitos Autorais até o fim de seus dias.
Faleceu no dia 20 de setembro de 1977 no Rio de Janeiro/RJ, vítima de pneumonia, deixando importante legado para a música popular brasileira.
Texto: Sandra Cristina Peripato