O Duo Ciriema foi uma dupla formada inicialmente por Aparecida Martins Batista, nascida em Franca, no interior do estado de São Paulo, em 22 de maio de 1940; e Irene Campos Mendonça, nascida também em Franca, em 11 de dezembro de 1939, tendo sido substituída logo depois por Irene Lopes, também nascida em Franca, em 26 de setembro de 1941.
Duas moças vindas de Franca, Irene Campos Mendonça, de 20 anos, e Aparecida Martins Batista (mais conhecida como Cida), de 19 anos, eram primas de primeiro grau: o pai de Irene era irmão da mãe da Cida.
Ambas trabalhavam como operárias em uma empresa chamada Tecelagem Gasparian, na Rua Siqueira Bueno, 929, bairro do Belenzinho, na capital paulista. Naquele tempo, eram comuns algumas faltas de energia, e, protegidas pela escuridão, as duas cantavam as mais belas modas de viola enquanto esperavam para poder trabalhar. Muitos se perguntavam de quem seriam as vozes misteriosas. Eis que em um belo dia, a energia voltou e um menino que as ouviu acabou dando uma grande idéia à Irene, de se inscreverem no programa de calouros da Rádio Nacional.
Naquele mesmo dia, Irene Mendonça seguiu seu coração e as inscreveu como "Cida e Irene". O programa se chamava "A Hora do Pato", famoso na época por revelar grandes nomes, tais como o rei Roberto Carlos, em 1955, no Rio de Janeiro. Não demorou muito tempo para que recebessem um chamado para o próximo domingo. E ainda ganharam um cachê.
Na época, Orlandinho era um sanfoneiro famoso que havia perdido suas duas parceiras. Tendo ouvido a dupla Cida e Irene na Rádio Nacional, na Rua das Palmeiras, em São Paulo, decidiu ir à busca das donas das vozes. Pegou o endereço das duas na própria rádio e se dirigiu à casa do pai da Cida, que também tocava acordeon, na Rua Dr. Vicente Batista, 68, no bairro Vila Santa Isabel, zona leste de São Paulo.
A princípio, Cida mostrou sua voz cantando com sua irmã, Mariinha. Orlandinho ficou empolgado e quis saber da sua parceira que havia escutado na rádio. Nenhuma das duas tinha telefone na época, e Irene Mendonça morava na Rua Torrinha, no Tatuapé. Só restava encontrar a amiga e prima no trabalho, no dia seguinte. Então Orlandinho disse que voltaria no outro dia, à tarde.
Cida chegou à tecelagem muito animada e contou à Irene Mendonça o que havia acontecido. Ao sair da fábrica, as duas correram para a casa. Orlandinho já estava lá. Assim que as ouviu cantarem, ele as convidou para formar um trio: ele na sanfona e elas, na voz.
Ainda trabalhando, elas passavam a tarde e a noite inteira ensaiando. No dia seguinte, trabalhavam até as 13h30 e voltavam a ensaiar, delineando os primeiros passos ao que tanto sonharam enquanto operárias de tecelagem. Assim, formava agora o trio Orlandinho, Geni e Gessi.
Em 14 de agosto de 1959, fizeram sua primeira viagem sem os pais e de ônibus, para Cana do Reino, no Estado de Minas Gerais (hoje, Carvalhópolis).
No sábado, 15 de agosto de 1959, o circo estava lotado. No domingo, como chovia demais, o dono do cinema local cedeu o espaço para elas fazerem o show. Tinha gente até em pé para ouvi-las cantar. Nestas noites, foram hospedadas na casa do dono do circo. Não ganhavam cachê e nem se perguntavam por que. Na verdade, o sonho de cantar era maior do que qualquer ambição. E o sonho havia se tornado realidade.
Neste meio tempo, Orlandinho foi à casa da Irene Mendonça para conhecer seus pais e irmãos, já que naquele tempo, moça de família era muito respeitada. Mas artistas, cantoras e atrizes não eram muito bem vistas pela sociedade, e infelizmente não foi muito bem recebido.
Fizeram alguns shows por algumas cidades, sempre com o mesmo entusiasmo e o mesmo amor. Para elas, era um tempo mágico, algo que existia como em um sonho. Neste período, Cida e Irene Mendonça já ensaiavam o que veio a ser mais tarde o grande sucesso da dupla, a canção "Não Beba Mais Não", de autoria de Jeca Mineiro e do próprio Orlandinho. Tiraram então, fotos para a divulgação do disco.
Com a agenda lotada para os finas de semana, chegou o dia de um show da cidade de Jundiaí/SP. uma prima de ambas, Irene Lopes, juntou-se à elas, inicialmente para assistir o show.
Na volta, Orlandinho teve uma longa conversa com a Irene Mendonça, dizendo que sentiu que sua família não aprovava a participação dela no trio e que preferia que tudo fosse feito dentro dos conformes. Não deu maiores explicações e nem mesmo disse que havia convidado a Irene Lopes para substituí-la. Dispensou a Mendonça e ficou com a Lopes.
Quem tinha mais lutado pelo início da dupla não podia mais continuar.
Irene Mendonça carrega essa tristeza até hoje.
Quem batizou a dupla com o nome de Duo Ciriema foi Tito Neto, da Gazeta Esportiva.
Em 1960, passaram a cantar na Rádio Nacional, no programa "Alvorada Cabocla". Em setembro do mesmo ano, gravaram seu primeiro disco de 78 rpm, contendo a canção rancheira "Não Beba Mais Não" e o bolero "Mais uma Lição". Acompanhada do sanfoneiro Orlandinho, passaram a cantar em diversas rádios paulistas, tendo participado de programas na Nacional, na América, na Bandeirantes e na Piratininga. Em maio de 1961, lançaram o segundo disco, contendo a huapango "Pecado de Amor" e o bolero "Sonhando Contigo". No mesmo ano, gravaram seu maior sucesso, a guarânia "Colcha de Retalhos". Nesta mesma época, iniciaram uma excursão ao Nordeste do Brasil levando a música sertaneja, onde, até então, somente predominavam o frevo e o forró. Apresentaram-se na Bahia, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Paraíba e Ceará. Em janeiro de 1962, lançaram o bolero "Beijos Proibidos" e o rasqueado "Indiazinha". Ainda em 1962, lançaram o rasqueado "Não Bebas Mais". Em 1963, gravaram dois de seus maiores sucessos, o rasqueado "Oh! Ciriema" e a canção rancheira "Bebida Não Mata Saudades". Lançaram também, com grande sucesso, inclusive em Assunção, no Paraguai, "Lencinho de Nhanduti". Em 1964, a dupla fez temporada no país vizinho. De lá trouxe a composição "Saudade", uma guarânia do escritor e embaixador Mário Palmeiro. A dupla se afastou da vida artística um pouco depois. Em 1972, gravaram de Serrinha e Athos Campos, "Chitãozinho e Xororó", retornando à vida artística. Gravaram também "Como Era Bom Aquele Tempo", "Rogo ao Senhor" e "Hei de Vencer". Em 1973, lançaram um novo LP, onde gravaram a guarânia "Saudade", até então inédita. Gravaram também "Mensagem de Esperança", que se tornou tema de uma novela do Capitão Furtado com o mesmo nome. Regravaram também "Não Beba Mais Não", a primeira gravação e sucesso do duo. Em 1975, gravaram um LP pela Copacabana em que se destacaram, entre outras, "Onde Tu Irás Sem Mim" e "Vivo Chorando". Em 1978 gravaram "Mensagem de Esperança".
O mais recente trabalho do duo foi um DVD em comemoração aos 50 anos de carreira.
O duo se desfez em 17 de julho de 2011 com o falecimento de Aparecida, vítima de câncer.
Texto: Sandra Cristina Peripato |