2010 – 100 Anos de “MUSA CAIPIRA”
- O Primeiro Livro de Cornélio Pires
Por Israel Lopes (escritor.israellopes@bol.com.br)
(Excertos do livro em preparo "A Moda Caipira de Cornélio Pires...", de Israel Lopes)
Foto histórica do Livro “Musa Caipira” de Cornélio Pires (Contendo algumas produções em dialeto paulista) - S. Paulo, Livraria Magalhães, 1910. Na foto, na pág. 3 do livro, o folclorista picando fumo, com um canivete, para fechar o palheiro, e ouvindo um velho caipira, barbudo, tocando uma viola autêntica. (Acervo de Leonardo Arroyo: doado à Biblioteca da Academia Paulista de Letras)
Frontispício do livro Musa Caipira, de Cornélio Pires (Contendo algumas producções em dialeto paulista), São Paulo – 1910 (Arquivo Leonardo Arroyo)
Neste ano de 2010 estamos comemorando o Centenário do livro Musa Caipira, de Cornélio Pires. No ano passado, no programa Viola, Minha Viola, apresentado por Inezita Barroso, o cantor Mazinho Quevedo, interpretou “Oi-Dele-lê”, de Cornélio Pires, e lembrou da importância da comemoração dos 100 Anos de Musa Caipira em 2010, como também dos 90 anos do Dialeto Caipira, de Amadeu Amaral. Anotei a sugestão desse grande violeiro e intérprete do cancioneiro caipira, seguidor da Turma Caipira Cornélio Pires.
Cornélio Pires, em 1910 publicou esse seu primeiro livro regionalista MUSA CAIPIRA, que foi muito bem aceito pela crítica especializada da época, como também foi muito bem aceito pelo público. Dedicou na página 2 “a Amadeu Amaral, o meu primeiro ensaio”. Pois, seu primo Amadeu, brilhante folclorista, muito o incentivou e encorajou a se lançar como poeta e escritor. O livro traz um subtítulo com uma observação: “Contendo algumas producções em dialeto paulista”.
Poesia Dialetal
Conforme a observação, o livro traz alguns poemas em “dialeto paulista”, ou, como o autor quis dizer, em linguagem caipira, pois Cornélio Pires foi o mais autêntico cultor da poesia dialetal do homem da roça. Entre os poemas, está o seu clássico da literatura regionalista, IDEAL DE CABOCLO:
Aí, seu moço, eu só queria
pra minha filicidade
um bão fandango por dia,
e um pala de qualidade.
Pórva, espingarda e cutia,
um facão fala-verdade
e ua viola de harmunia
pra chorá minha sódade.
Um rancho na bêra d’agua,
vara anzó, poça mágoa,
pinga boa e bão café...
Fumo forte de sobejo...
pra compretá meu desejo,cavalo bão – e muié!
Um ano antes, já publicara o seu primeiro soneto no gênero dialetal, “A Origem do Homem”, no jornal O Tietê, de sua terra natal, com uma repercussão muito boa, que o animou a prosseguir, fazendo no verso o que Valdomiro Silveira fazia na prosa: um regionalismo autêntico em linguagem cabocla.
- O senhor por acaso descende
dos bugres que moravam aqui?
- Hom’eu num sei dizê, vancê comprende
que essa gente inté hoje nunca vi.
Mais porém o Bernado dis-que intende
Que os morado antigo do Brasi
gerava de macaco!... Inté me offende
vê um véio cumo elle, ansim, minti.
D’dotra feita um cabocro – ahi um caiçara –
dis-que nascium de dois e inté de treis,
quano estralava um gommo de taquara!
Nóis num temo parente purtugueis,
nem mico, nem cuaty, nem capivara...
semo fio de Deus cumo vanceis!
O sertanismo, estudado por Tristão de Athayde (in“Affonso Arinos”, 1922 Apud BERNARDO ELIS) como corrente do regionalismo, vem desde José de Alencar, com O Gaúcho (1870) e O Sertanejo (1875); Valdomiro Silveira, também paulista, igual a Cornélio Pires, publicou seus contos regionais (em dialeto caipira) em jornais e revistas, a partir de 1894. Depois, Coelho Neto, com o livro Sertão (1897); Afonso Arinos, Pelo Sertão (1898); e Euclides da Cunha, com Os Sertões, em 1902. É claro que todos eles, grandes prosadores, procuravam mostrar o sertanejo do Brasil, de todos os “brasis”, como diz o poeta Geraldo do Norte. O José de Alencar, no seu romance mencionado, chamou o gaúcho, de “sertanejo do Sul”.
Agora, na poesia, quem melhor falou sobre o caipira, que é o sertanejo de São Paulo, com originalidade, foi Cornélio Pires. Este realizou pesquisas de campo. Segundo Joffre Martins Veiga (“A Vida Pitoresca de Cornélio Pires”, 1961):
“Constantemente procurava ele conversar com os caboclos, observando-lhes a pronúncia, o jeito, as atitudes. Registrava mentalmente a deformação prosódica dos interlocutores. O contato direto, a convivência quase continua com o homem do campo, desde o nascimento até a mocidade, forneceram-lhe primoroso material lingüístico e poético para suas primeiras produções no gênero. A sua aguçada atenção nada escapava. Observava e anotava discretamente tudo o que se passava no meio campestre”.
Quando lançou MUSA CAIPIRA, Cornélio Pires enviou um exemplar ao notável crítico literário Sylvio Romero, que assim se manifestou através de carta:
“Apreciei imensamente o chiste, a cor local, a graça, a espontaneidade de suas produções, que, além do seu valor intrínseco, são um ótimo documento para o estudo dos “brasileirismos” da nossa linguagem. V. Sª saiu-se perfeitamente bem da empreitada, porque o gênero que cultiva é, muito ao contrário do que geralmente se pensa, cheio de grandes dificuldades. Esperando novas produções suas, cá fica seu admirador muito grato, Sylvio Romero”.
O filólogo João Ribeiro, outro grande mestre da época, emitiu seu juízo favorável ao livro e disse que aproveitaria alguns termos para o futuro Dicionário da Academia (“Dicionário de Brasileirismos”).
Escola Regionalista da Poesia Caipira
Cornélio, encorajado pela boa aceitação crítica e de gente de peso, resolveu continuar, sem se dar conta de que estava criando uma Escola Regionalista, da poesia caipira, com a valorização do dialeto. Em 1911 publicou o poemeto O MONTURO (edição de Pocai & Weiss), e no ano seguinte publicou VERSOS. Este livro VERSOS é dividido em três partes: Cenas e Paisagens da Minha Terra, Versos Velhos e Musa Caipira (Empresa Grafhica Moderna, São Paulo, 1912).
Consegui pesquisar sobre esse livro, num exemplar encontrado na Biblioteca Pública Municipal de Piracicaba, SP, em agosto de 1981, graças a gentileza da Profª Iria Marly G. Rodrigues Coelho, então Bibliotecária – Chefe do Setor de Biblioteca. Nesse livro, tem uma foto de Cornélio Pires, ainda moço, de bigode, bem trajado, de lenço no pescoço.
Capa do livro SCENAS E PAIZAGENS DA MINHA TERRA(Musa Caipira), 1921. Capa do livro “Versos”, 1912.
Cornélio Pires incluiu Musa Caipira, num terceiro livro: – SCENAS E PAIZAGENS DA MINHA TERRA (MUSA CAIPIRA), Edição da REVISTA DO BRASIL – Monteiro Lobato & Cia. Editores, São Paulo, 1921. Contém nesse livro: MUSA CAIPIRA, VERSOS e O MONTURO.
No verso da folha de rosto ou frontispício, diz Cornélio Pires:
“AO LEITOR
Publicando SCENAS E PAIZAGENS DA MINHA TERRA e VERSOS VELHOS, reedito a MUSA CAIPIRA, com que fiz a minha estréia.
Sem methodo por natureza, apresento uma verdadeira salada de versos e de... orthografia.
O meu plano não era o de fazer este livro, era o de publicar um segundo volume de MUSA CAIPIRA, encorajado, como fui pelos críticos que louvaram da minha obra apenas o esforço para o alevantamento de uma escola entre nós abandonada.
Sylvio Romero, o austero mestre, encorajou-me com a carta abaixo que, sem consultá-lo, publico...
Não sei se faço bem ou mal...”
E transcreveu na íntegra a carta do grande folclorista, como já foi vista. O Mestre Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima, que foi da Academia Brasileira de Letras), elogiou esse livro, quando disse que “Cornélio Pires seria um poeta à parte, o nosso poeta caipira”(Apud Macedo Dantas).
O livro “Musa Caipira”, também foi reunido ao “As Estrambóticas Aventuras de Joaquim Bentinho (O Queima-Campo)”, numa edição comemorativa ao Centenário de nascimento do autor (1884-1984) pela Prefeitura Municipal de Tietê em 1985.
No livro, contém uma “Explicação”, assinada pelo ilustre historiador ituense, Roberto Machado Carvalho, que diz à certa altura:
“MUSA CAIPIRA foi editada em 1910 pela Livraria Magalhães, São Paulo. Livro de estréia de Cornélio Pires, contendo poesias e diversos sonetos em dialeto caipira. No final, um glossário com a Significação de algumas palavras em dialeto sul-paulista adotado em algumas produções. Obra pioneira no gênero, dedicada ao primo Amadeu Amaral que muito o incentivou a publicar. O soneto Ideal de Caboclo, o mais conhecido e divulgado, apareceu na revista A Farpa, dirigida por Simões Pinto. Um dia, encontrando-se com o celebrado escritor capivariano (Amadeu Amaral), recebeu felicitações pelo soneto e uma recomendação:
“Esse filão é inexplorado, dedica-te a ele, escreva um livro...”
E sobre o outro livro de Cornélio Pires, que foi reeditado, com Musa Caipira, ainda diz o historiador Roberto Machado Carvalho:
“Em 1924, apareceu a primeira edição de AS ESTRAMBÓTICAS AVENTURAS do JOAQUIM BENTINHO (O Queima-Campo), incluindo Vocabulário, Editado pela Imprensa Metodista, São Paulo. O livro, simboliza um dos melhores momentos da prosa regionalista de Cornélio Pires. Foi, através dele, que Cornélio criou seu famoso personagem roceiro, o Joaquim Bentinho, “caboclinho mirradinho, olhinhos vivos...”, que sempre tem um caso a contar, uma mentira engatilhada”, razão de ser chamado Queima-Campo, um exímio contador de potocas. O livro recebeu elogios de gente famosa, como Afonso Schimidt:
“Cornélio Pires foi um folclorista atilado, um contista cheio de emoção, um pesquisador que ficará na história da literatura regional. Seu livro do Joaquim Bentinho, infelizmente pouco conhecido, tem um lugar marcado nas letras, no seu gênero picaresco”.
E Monteiro Lobato disse: “Já comprei as Aventuras e li-as e venho dar-te um abraço e, ao mesmo tempo, confirmar-lhe a minha imensa admiração pela tua obra... Você, Cornélio, é um dos pouquíssimos que vão ficar. Há tanta verdade nos teus tipos, tanta vida, há tanto humanismo na tua obra, há tanta beleza e originalidade em teu estilo, que estás garantido; estás à prova do tempo que varre impiedosamente o que é medíocre...”
Nas páginas 139 a 167 reuniu o “Vocabulário – Brasileirismos, archaismos e corruptelas empregados na “Musa Caipira”, Scenas e Paisagens da Minha Terra”, “Quem conta um conto...”, “Conversas ao pé do fogo” e na presente obra”, que é “As Estrambóticas Aventuras do Joaquim Bentinho...” O organizador do livro, conservou o texto original.
No verbete sobre o caipira, Cornélio Pires explica a origem etimológica da palavra:
“Caipira – Por mais que rebusque o “etymo” de “caipira”, nada tenho deduzido com firmeza. Caipira seria o aldeão; neste caso encontramos o tupy guarany “Capiabiguára”. Caipirismo é acanhamento, gesto de ocultar o rosto; neste caso, temos a raiz “caí” que quer dizer: “Gesto do macaco ocultando o rosto”. Capipiara”, quer dizer o que é do mato. “Capiá”, de dentro do mato: faz lembrar o “capiau” mineiro. “Caapi”, - “trabalhar na terra, lavrar a terra” – “Caapiára”, lavrador. E o “caipira” é sempre lavrador. Creio ser este último caso mais acceitável, pois, “caipira” quer dizer “roceiro”, isto é, lavrador.
E continuando, diz Cornélio Pires:
“Sinonimos de “caipira” conheço apenas os seguintes:
- “Capiáu”, em Minas; “quejeiro”, em Goyaz; “matuto”, Estado do Rio e parte de Minas; “mandy”, sul de S. Paulo; guasca ou gaúcho no Rio Grande do Sul; “tabaréo”, Distrito Federal e alguns outros pontos do paiz; “caiçara”, no litoral de S. Paulo e em todo o paiz, “sertanejo”.
Na “Explicação”, o historiador Roberto Machado Carvalho, que é, sem dúvida, um dos maiores conhecedores da obra do nosso escritor, ainda trás “Tietê e o Culto Corneliano”, foto do Cornélio, “Dados Bibliográficos”, aquela “Entrevista a Silveira Peixoto (em 1939)”, a folha de rosto do livro e informa as edições de MUSA CAPIRA:
1ª edição – 1910, Musa Caipira, Livraria Magalhães, São Paulo, 96 págs.
2ª edição – 1912, Versos, Empresa Gráfica Moderna, São Paulo, 162 págs. Contém: Scenas e Paisagens da Minha Terra, Versos Velhos e Musa Caipira.
3ª edição - 1921, Scenas e Paizagens da Minha Terra, Monteiro Lobato & Cia. Editores, São Paulo, 184 págs. Contém: Musa Caipira, Versos e O Monturo.
4ª edição - 1985, Prefeitura Municipal de Tietê, SP.
O Sol e o Caboclo
Também, como pesquisador da vida e da obra do grande vate tietense, quero expressar o meu depoimento pessoal, sobre a sua poesia, conforme está no meu livro “Turma Caipira Cornélio Pires, Os Pioneiros da Moda de Viola em 1929”(publicado em 1999):
“Quando comecei a estudar na “Escola Isolada Sibirino dos Santos” (meu avô materno), em Passo Novo, minha terra natal, 3º Sub-distrito de São Borja, hoje Santo Antônio das Missões, RS, isso em 1962, o meu livro era ‘VAMOS ESTUDAR?”, de autoria do Prof. Theobaldo Miranda Santos, Editora Agir, 2ª série do curso primário. A saudosa Profª Maria das Dores Ferreira Corrêa fazia lermos a lição, bem alto. O livro trazia o poema de Cornélio Pires, “O Sol e o Caboclo”:
“Quando os raios desenfeixa
o sol e as luzes derrama:
o caboclo logo deixa
a cama.
Quando o sol, do alto, orgulhoso,
as luzes na roça espalha:
o caboclo, vagaroso,
trabalha.
Quando a pino o sol atira
seus raios, sob uma frança,
deitado o nosso caipira
descansa.
E quando no poente rola
o bom sol, depois da janta,
ponteia o caboclo a viola
e canta”.
“O poema vinha ilustrado com o desenho de um caipira, saindo do rancho, com a enxada ao ombro. Esse poema marcou muito a minha formação regionalista. Quando lia o poema, parecia que sentia em meu coração a própria hospitalidade dessa gente simples do interior. Cornélio Pires foi um artista por excelência. Pintou quadros da vida roceira que só ele sabia pintar. Foi um pesquisador e, antes de tudo, um amigo do caipira. Mostrou que o caipira, embora moroso, não era vadio; mas sim trabalhador e persistente”.
Esse poema é do livro VERSOS de 1912. Está na pág. 41 (na primeira parte SCENAS E PAISAGENS DA MINHA TERRA). No livro SCENAS E PAIZAGENS DA MINHA TERRA (MUSA CAIPIRA) publicado em 1921, está na página 133. (Nesta edição, foi incluído esse livro Versos e também O Monturo).
O Violeiro Caipira
- No Ponteio da Viola
No livro Musa Caipira, Cornélio Pires dá vasão à sua veia poética, calcada em suas pesquisas sobre a vida do roceiro paulista, conforme demonstrou Joffre Martins Veiga (passagem já citada do seu livro A Vida Pitoresca de Cornélio Pires). Na página 3, trás aquela foto do Cornélio folclorista, ouvindo atentamente um velho caipira, barbudo, tocando uma viola autêntica. Na página 70, também, uma foto de um caipira de barba, de chapéu, calça arremangada, de pés-no-chão, lenço no pescoço, escorado na porta do rancho de pau-a-pique (paredes barreadas, coberta de capim), tocando uma viola. Consta o nome do fotógrafo: Barros, com data de 1900.
Como uma das finalidades deste estudo, além de destacar o pioneirismo de Cornélio Pires, como cultor do dialeto caipira paulista, na poesia e na prosa, é também o de destacá-lo como folclorista, introdutor da “moda caipira” no cancioneiro popular do Brasil. Por isso, analisando o seu primeiro livro MUSA CAIPIRA cujo centenário estamos comemorando, Cornélio, já demonstrava o seu aguçado tino de pesquisador da música caipira autêntica, destacando o violeiro e a viola do caipira nos seguintes poemas: Casa Rústica, onde diz no primeiro terceto do soneto decassílabo:
“Varas-de-anzol, uma espingarda e a viola
com que o caboclo – quando em desafogo –
em alegres descantes se consola”.
No poema Ideal de Caboclo, o seu grande clássico do regionalismo caipira paulista, como já foi visto, fala também na viola. Em Divagação, oferecido a Simões Pinto, diz na primeira estrofe:
“Sentado sobre o catre, na saleta,
o Chico Antônio esbelto rapazola,
quando cheio de amor pela Tonieta,
pensa na guapa e vai ponteando a viola”.
Nas duas estrofes dos dois tercetos do poema, volta ao tema: “E o Chico Antonio a viola vae ponteando,/de cabeça curvada sobre o pinho, /as notas lamentosas escutando. Pensa na ingênua filha do visinho,/e quase sem querer, improvisando,/canta uma quadra para o seu benzinho”.
No Fama de Violeiro (págs. 21 e 22), um clássico, que não perde para o “Ideal de Caboclo” e outros clássicos do autor, carregado de linguagem dialetal, onde retrata muito bem o cancioneiro caipira, por isso vamos reproduzí-lo na íntegra:
“- Lá na festa do nho Zinho
no bairro do Riu-Cumprido,
pareceu um sojeitinho,
que é cabocro destrocido.
Na viola elle anda sosinho!
Fais chorá, fais dá gemido...
Oh! Viola veia! Mocinho,
num ponteado destimido!
Aquilo sim que é violêro:
póde mandá rebuscá
que num incontra parcêro!
- Pois a noiva do nho Ná,
largô delle, feis berrêro
e tá gostano do tá”.
No poema Descantes, com três quadras, como fez com o poema Divagação, canta com muito sentimento à sua amada, agora uma morena, e reforça sua condição de bom violeiro:
“Morena, vem da cidade;
peço por bem, por esmola:
vem matar esta sódade
que me mata, que em amola!
Morena, guapa morena,
minh’alma não se consola,
gemido cheio de pena
é o chorado desta viola.
Morena, vem da cidade:
vem escuitar esta viola,
vem matar esta sódade
que me mata – por esmola...”
No poema Noivo Caipira, Cornélio Pires, como é uma característica geral de suas produções em dialeto paulista (ou caipira), encarnou o sonho do homem da roça, sesteando às duas horas da tarde, e pensando no casamento, no sorriso da futura companheira, no fandango que haveria na festa, na dança do cururu, no samba no terreiro. Um retrato da paisagem campestre:
“Pleno verão. Silêncio em toda a roça.
Duas horas da tarde. Numa esteira,
estendido, o caboclo pensa e esboça
os planos do casório, Quinta-feira...
Vae casar-se no sabbado, e na choça
já antegosa o sorrir da companheira...
Há-de haver um fandango e alegre troça,
por certo, há-de varar a noite inteira.
Na sala, o cururu: - e no terreiro
o samba ferverá, samba macóta,
entre sons da viola e do pandeiro...
E o ingênuo moço, em febres de desejo,
é noivo, há muitos mezes, de nha Cóta
e... não conhece o paladar de um beijo.”
Em Paixão Impossível, faz uma referência à “Festa do Divino”, tradicional de sua terra. Na poesia A Festa de São João, fala no batuque, novamente no cururu, no desafio, no jogo de prenda. Vale registrar, sobretudo, por seu conteúdo folclórico:
“No casarão antigo da fazenda,
tudo é jogos, brinquedos e festança:
na varanda do lado jogam prenda
e no salão o baile não descança.
A fogueira, tão celebre na lenda,
estala em labaredas. Canta e dansa,
o povo do batuque, na contenda,
aos pulos e aos requebros da folgança.
No cururú manhoso, a caboclada,
rasca nas violas, canta ao desafio,
provocando constante gargalhada.
Depois, das diversões cortando o fio,
o povo em procissão, de madrugada,
vai lavar o S. João, além, no rio”.
A Festa do Divino em Tietê – O Pouso é um registro dessa tradição de sua terra natal. A maior festa do folclore daquela cidade, registrada por todos os historiadores e folcloristas que escreveram e continuam escrevendo sobre a cultura popular paulista.
“Do Tietê magestoso, as margens silenciosas,
que pareciam ser inhospitas, desertas,
parecem-nos agora alegres, populosas,
e um sussurro de festa há nas casas abertas.
Onde poisa o Divino há folganças ruidosas
entre o povo que traz, respeitoso, as offertas...
Requebram no batuque as pretas mais dengosas
e saltitam no samba as morenas espertas.
Fremente, o cururú não falta no folguedo...
Resôa pela matta o estrondo da roqueira,
assustado na grota a caça e ao passaredo.
E ao romper da manhã, á dúbia claridade,
nas canoas, de novo, a comitiva inteira,
parte alegre a cantar em rumo da cidade”.
A Origem do Homem, outro clássico, que já foi reproduzido. Caboclo Desembaraçado – no samba, é oferecido a Valdomiro Silveira, também grande escritor do dialeto paulista. Diz na primeira estrofe:
“- Se eu pudesse casá co’ aquella diaba!
E, requebrando, a alegre Felisberta
samba, attraindo o Zé Matheus, que gaba
aquelle corpo que uma cinta aperta”.
No Sítio de Caboclo, Cornélio Pires descreve com muito conhecimento de causa, como pesquisador e folclorista que era, a morada, a vida rude do homem do campo, e não deixa de falar no seu inseparável instrumento, a viola caipira:
“E um caboclinho indolente,
Que baixinho cantarola,
Recostado no batente
Vai ponteando a viola”.
Então, foi em 1907 que Cornélio Pires começou suas pesquisas. A afirmação é verdadeira. Pois quando escreveu os poemas para o seu primeiro livro, já possuía um alto conhecimento sobre a cultura caipira, aliado ao seu espírito criador, poeta hábil na composição dos seus versos. No livro Musa Caipira, da página 89 a 98 ele traz: “Significação de algumas palavras do dialeto sul-paulista adaptado em algumas producções”. Constou no livro Versos (1912) e nos seus demais. Alguns desses significados, que interessam mais à nossa pesquisa, sobretudo, no tocante à música regional, como:
“Bate-pé - Dansa composta de violeiros e cantadores, também chamada sapateado, mandado, e etc.”
No livro “As Estrambóticas Aventuras de Joaquim Bentinho (o Queima Campo)”, 1924 constou: “Bate-pé - Dança cabocla. O mesmo que “sapateado”, “cateretê”, ou “catira”.
Também acrescentou, nesse livro “As Estrambóticas...: “Catira ou Cateretê – Dansa de caboclos formando duas linhas de seis ou mais pessoas, dois a dois, frente a frente, com violas. Cantam em dueto os cantadores seus amores ou os factos principais do bairro e redondezas, respondendo o côro, sapateando nos intervalos sob compassos marcados a palmas. O som dos pés no chão e as palmas formam variada música”.
Mas voltando ao “Vocabulário”, do Musa Caipira, encontramos os seguintes verbetes sobre nossas danças:
“Batuque - Dansa de negros. Formam roda de sessenta e mais pessoas, que cantam em côro os últimos versos do “cantador” e ao som de tambús, - tubos de madeira com uma pelle numa das extremidades e que produz sons muito altos com diversas graduações, - requebram e saltam homens e mulheres, dando violentas umbigadas uns contra os outros, Usa-se também nessas dansas, o quingengue – similhante ao tambú, tendo inteiriça a metade do volume. O compasso é marcado também com palmas”.
No “As Estrambóticas...”, acrescentou no final desse texto: “Hoje raramente dansa-se o batuque. Confundem-se com o jongo e este com o samba... Batuque é dansa de negros e o samba é dansa de caboclos...”
Voltando novamente ao Musa Caipira, cujo centenário comemoramos, encontramos os significados de outras danças e festas populares, na pesquisa de Cornélio Pires:
“Cururú - Dansa em que tomam parte os poetas sertanejos, formando roda e cantando cada um por sua vez, atirando os seus desafios mútuos. Os instrumentos usados são: a puyta, roquenha, em forma de um pequeno barril, tendo o fundo de couro de cabra com uma varinha no centro; a trepidação produzida com um pano molhado empalmado pelo executante, produz o som, um verdadeiro ronco; o réque-réque, que é um gommo de bambu, de meio metros, dentado, em que o tocador passa compassadamente uma palheta do mesmo vegetal, secco; o pandeiro, os adufes e a celebre viola. Os cururueiros cantam sem mostras de cansaço, desde o anoitecer até ao amanhecer”.
“Festa do Divino – E’ a festa em honra do Espírito Santo, que se reveste de grande brilho, na cidade de Tietê. Os caboclos têm como obrigação cumprir a promessa de seus antepassados, que desciam em número de sessenta ou mais, nos grandes batellões, pelo Rio Tietê, e subiam esmolando entre o povo ribeirinho, durante vinte e cinco dias. As casas, na passagem das canoas, são enfeitadas com palmas e arbustos, sendo oferecidas lautas mesas aos canoeiros e ao povo do bairro, que aflue nessas ocasiões. Onde pousa o Divino e toda a comitiva, organizam-se interessantíssimas diversões, reunindo-se no sítio mais de mil pessoas”.
“Moda - poesia; canção”.
Cornélio Pires, no livro “Conversas ao Pé do Fogo” (1921) também reuniu um “Vocabulário” – “Brasileirismos, archaismos e corruptelas empregados na “Musa Caipira”, “Scenas e paisagens da minha terra”, “Quem conta um conto..” e na presente obra”, onde constou um verbete sobre o samba rural:
“Samba – Dansa de caboclos. Nada tem com o jongo africano hoje dansado em todo o Brasil. O samba é dansa de caboclos, com violas, adufes e pandeiros. Ao canto e côro os dançarinos em tregeitos “tiram” as damas e estas aos cavalheiros, sem se tocarem, dansam e voltam aos seus lugares”.
No livro Sambas e Cateretês, ele explica sobre todos os tipos de “modas” : Modas de Viola, Os Violeiros e seus gêneros de modas..., Quadrinhas (estas quadrinhas são geralmente cantadas soltas nas “canas-verdes”, “viuvinhas”, “passa-pachola” e outras danças), Recortados (em certas zonas de alta Paulista, Mogiana, Triângulo e Oeste de Minas e Goiás, após a moda do “catira”, “cateretê” ou “bate-pé”, cantam os “recortes” antes de cada sapateado), Abecês (o A.B.C., isto é, uma série de estrofes iniciadas com as letras do alfabeto, é um gênero poético cultivado em todo o país, sejam os matutos e tabaréus do Norte, os “quejeiros” goianos, os capiaus mineiros ou os caipiras paulistas), Moda catireiras e Modas diversas.
Regionalismo de Cornélio Pires e Simões Lopes Neto
(João Simões Lopes Neto, escritor, poeta e político gaúcho, nasceu em Pelotas no dia 9 de março de 1865 (Correio do Povo, de 9/3/1910). Cornélio Pires, escritor, poeta e folclorista paulista, nasceu em Tietê no dia 13 de julho de 1884. Foto, publicada no livro VERSOS, 1912. Consegui um exemplar desse livro (em 2010), com o Armazém do Livro Usado, de Brasília, DF).
Amadeu Amaral, no Dialeto Caipira, publicado em 1920, citou muitos vocábulos, tirados de Musa Caipira e de Quem Conta Um Conto.., este já em prosa, por Cornélio Pires, em 1916. Na Bibliografia arrolada por Amadeu Amaral, Cornélio Pires (581 vocábulos), ali está ao lado de Simões Lopes Neto (Contos Gauchescos e Cancioneiro Guasca, 339 vocábulos), Valdomiro Silveira, Monteiro Lobato, Catullo da Paixão Cearense, Hugo de Carvalho Ramos e outros clássicos. Amadeu Amaral, nas tradicionais dedicatórias, oferece o livro a Valdomiro Silveira, Alberto Faria e Cornélio Pires, - a este, dizendo: cognominado o Poeta Caipira. Na parte Colaboradores com material de pesquisa, também aparecem os três escritores ao lado de outros abnegados.
“Musa Caipira” e “Cancioneiro Guasca”
– Dois Centenários em 2010
Segundo o resumo biográfico de “Cornélio Pires” (Quem conta um conto..., reedição de Ottoni Editora, 2002), o livro Musa Caipira foi publicado “em maio de 1910”. Cornélio antecipou-se ao nosso escritor gaúcho Simões Lopes Neto, embora o primeiro livro deste, também tenha saído no mesmo ano. Estamos, também no seu centenário. É oportuno registrar que o escritor e professor João Cláudio Arendt, do Programa de Pós-Graduação em Letras, Cultura e Regionalidade da Universidade de Caxias do Sul (UCS), publicou num excelente artigo, intitulado “O Best-seller regional”, no Caderno Cultura, da Zero Hora, de Porto Alegre, em 27 de março de 2010, dizendo:
“Há cem anos, Simões Lopes Neto lançava “Cancioneiro Guasca”, obra que não mereceu a mesma atenção de “Contos Gauchescos”, mas que marca opção pelo regionalismo”.
Capa do livro Cancioneiro Guasca, de J. Simões Lopes Neto, Editora Globo (Coleção Província), Porto Alegre, 3ª edição, 1954.
O Jornal Correio, de Porto Alegre, na edição de 15 de junho de 1910 assim registrou:
“Cancioneiro Guasca – Dentro em breve, será posto à venda um livro do nosso patrício, capitão João Simões Lopes Neto. Trata-se de uma coletânea de poesias, rio-grandenses e históricas lendas, antigas danças e poemetos gaúchos, desafios e outras produções de caráter popular. O livro, que terá cerca de 300 páginas, intitula-se Cancioneiro Guasca”.
O mesmo jornal Correio do Povo do dia 7 de agosto de 1910 noticiava o lançamento do livro:
“Cancioneiro Guasca – É o título de uma brochura de 286 páginas, impressas nas officinas da Livraria Universal, contendo muitas trovas gaúchas e uma parte em prosa sobre as lendas do Boi-Tatá, Negrinho do Pastoreio, etc.”
O Conto Regionalista de Pires e Lopes Neto
– O seu caráter universal
O registro é bom que se faça. Pois, além dos centenários dos dois livros, havia uma afinidade muito grande entre ambos, principalmente nos contos regionais. Cornélio Pires, quando interlocutor do caipira Joaquim Bentinho, usava a linguagem do Jeca, assim como o nosso gaúcho Simões Lopes Neto, com o “campeiro Blau Nunes” (Moyses Vellinho, 1960), nos “Contos Gauchescos” (1912). Em outras palavras, Cornélio Pires está para o regionalismo paulista assim como Simões Lopes Neto está para o Rio Grande do Sul.
Macedo Dantas, no livro “Cornélio Pires – Criação e Riso” (1976) compara Continuação das Estrambóticas Aventuras de Joaquim Bentinho (o Queima-Campo), de Cornélio Pires, com Casos do Romualdo, de Simões Lopes Neto, dizendo “aventuras de mentirosos”, do tipo do Barão de Münchausen”. “Casos do Romualdo” foi publicado em capítulos num jornal de Pelotas, em 1914 e somente saiu em livro em 1952, enquanto que “Continuação das Estrambóticas Aventuras” data de 1929. Faz a comparação da história que o Joaquim Bentinho contou, de quando encontrou um espeto para assar uma carne. Pois era uma cobra encarangada, que, com o calor do fogo, começou derreter a geada, e saiu correndo, com o churrasco. O Romualdo, no final do conto, diz que a cobra se assustou e saiu do churrasco. Macedo, com razão, diz:
“O motivo pode ser folclórico, originado nas longas conversas dos tropeiros, à noite ou ao passo do cavalo”.
Evidentemente, que se trata de um conto folclórico, adaptado à região de cada um dos autores. Esse tipo de conto, narrado por um personagem “queima-campo”, conforme vimos é encontrado na obra do Barão de Münchausen. Aí está a universalidade nas obras do paulista e do gaúcho. A propósito, a poetisa paulista e estudiosa da cultura caipira, professora Ana Marly de Oliveira Jacobino, numa missiva virtual de 16 de outubro de 2010 nos deu um depoimento muito próprio para essa qualidade literária da obra de ambos:
"Sem dúvida, o regionalismo do Cornélio Pires e do Simões Lopes Neto deve ser visto como universal”.
As Danças Regionais nas pesquisas de ambos
Embora, como disse o professor e historiador Arendt, Cancioneiro Guasca não mereceu a mesma atenção de Contos Gauchescos, mas esse registro no Dialeto Caipira, do grande folclorista Amadeu Amaral, em 1920, é uma prova do valor dialetal dessa primeira obra do nosso escritor patrício.
No que concerne às letras musicais primitivas encontradas no Rio Grande do Sul e origens, sem sombra de dúvida, o ponto alto do livro de Lopes Neto. Os dois maiores folcloristas do Rio Grande do Sul: Paixão Côrtes e Barbosa Lessa (Danças e Andanças da Tradição Gaúcha, 1975), mencionam em várias passagens o capítulo “Antigas Danças”, desse livro Cancioneiro Guasca, contendo quadrinhas da Chimarrita, Boi Barroso, entre outras, “recolhidas por Simões Lopes”.
Outro grande folclorista brasileiro, igual a Amadeu Amaral, Côrtes e Lessa, preocupado com a literatura do povo, que citou esse primeiro livro Cancioneiro Guasca, foi o Mestre Luiz da Câmara Cascudo. Ele diz na pág. 372 da sua monumental obra Literatura Oral no Brasil (1984 – que teve edição original em 1952) na parte referente ao Fandango:
“Pelo Rio Grande do Sul, J. Simões Lopes Neto (477) ensina: - “Os bailes em que era elas (as danças populares) dançadas denominavam-se fandangos”.
Hoje, conforme sabemos, no Rio Grande do Sul, fandango não é mais uma designação de uma dança, mas sim “designação genérica de baile popular”, como bem acentua o mesmo autor, Câmara Cascudo, na obra mencionada.
Assim como Cornélio Pires, que desde o seu primeiro livro Musa Caipira, registrou as antigas danças paulistas, como batuque, catira ou cateretê, cururú, moda-de-viola, as quadras, o samba rural, o fandango, bem como a Festa do Divino, Simões Lopes Neto, no Cancioneiro Guasca, também registrou as antigas danças do Rio Grande do Sul.
Estudos e Reedições dos livros de Cornélio Pires
Além de ter sido reeditado o livro MUSA CAIPIRA - ESTRAMBÓTICAS AVENTURAS DE JOAQUIM BENTINHO (O Queima-Campo) pela Prefeitura de Tietê, em 1985, conforme vimos, também já havia saído uma reedição de “Conversas ao Pé do Fogo”, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo S. A. - IMESP, SP- edição fac-similar, 1987. O escritor já estava de há muito fora das prateleiras das Livrarias, pois sua última obra reeditada, fora MEU SAMBURÁ por Editorial Amádio Ltda., em 1960 com apresentação do escritor Pedro Brasil Bandecchi que assim se manifestou:
“Alguns valentes escreviam em dialeto caipira. Bem poucos, porém. Entre eles Cornélio Pires. Um soneto seu ficou famoso e não sei por que ainda não figura nas antologias. Somente por caturrice. Caturrice de cérebros embolorados, que, infelizmente, ainda andam por aí a deitar sabedoria engarrafada. Devia figurar, como obra-prima da literatura regional”.
Livros de Joffre Martins Veiga, Macedo Dantas e Outros
Escritores entre os quais Joffre Martins Veiga, autor de dois livros Antologia Caipira - Prosa e Poesia de Cornélio Pires (1960) e A Vida Pitoresca de Cornélio Pires (1961); e Macedo Dantas, autor do livro Cornélio Pires – Criação e Riso (1976) lutaram, nos seus próprios livros e através da imprensa (publicando artigos em jornais), conclamando às autoridades públicas, a tirarem o nosso autor do esquecimento.
Outros intelectuais que publicaram livros e se somaram a essa luta: Roque Luzzi: Rapsódia Caipira – Cornélio Pires, seu Tempo, seus Seguidores (1984); Abel Cardoso Junior, de Sorocaba: Cornélio Pires, O Primeiro Produtor Independente de Discos no Brasil (1986); Euclydes Camargo Madeira, de Tietê, Na Terra de Cornélio Pires...(1991); e Benedicto Pires de Almeida – Zico Pires, também de Tietê, Perfil de Cornélio Pires, inédito.
O hoje saudoso poeta Benedito Pedro Silvestrin (Fuzilo) em cada “Semana Cornélio Pires”, ano após ano, vinha trazendo um encarte no jornal “Nossa Folha”, de Tietê, descobrindo novas faces do homenageado e sempre destacando como título, uma obra (dos 23 livros) do imortal escritor tietense. Também não posso deixar de citar: Mário Pires (de Campinas), Mauro Pires, Capitão Furtado, Irma Soares de Camargo, (de Tietê); Leonardo Arroyo, Alberto Rovai, Émerson Ribeiro de Oliveira, Ernani Silva Bruno, Ibiapaba Martins, Hélio Damante, Paulo Dantas, Hélio do Amaral Pompeu, Pedro Ferraz do Amaral, Renato José Poleti Osório (estes todos de São Paulo); Alceu Maynard Araújo, Sebastião de Almeida Pinto (de Botucatu), João Chiarini, Arthur Eugênio Sacconi (de Piracicaba); entre outros, que se somaram a essa empreitada, de patriotismo, de brasilidade.
Livros de Cornélio Pires reeditados por Ottoni Editora
- Coleção “Conversa Caipira”, de Itu, SP
Mas essa luta não foi em vão. Agora, graças ao alto espírito altruísta e idealista do Sr. Mylton Ottoni Silveira, um editor corajoso, preocupado com a memória cultural do nosso País, que arregaçou as mangas e foi à luta. Adquiriu os direitos autorais das obras de Cornélio Pires e lançou um Projeto, denominado “Conversa Caipira”, através de sua Ottoni Editora (de Itu, SP) e já reeditou as seguintes obras de Cornélio Pires:
Em 2002, Conversas ao Pé-do-Fogo, Patacoadas e Quem Conta Um Conto... Em cada obra foi incluído um artigo, escrito por um estudioso da obra do artista tieteense, para os novos leitores melhor entenderem o fenômeno literário, editorial e popular dos começos do Século 20, que foi Cornélio Pires, editado até por Monteiro Lobato. Ele foi o escritor que mais vendeu livros no Brasil nas décadas de 20 e 30 do Século passado. No primeiro, Conversas ao Pé-do-Fogo, para o meu gáudio (nem sei se mereço) foi incluída a minha palestra “Cornélio Pires, Um Pouco de Sua Vida e de sua Obra”, que proferi na 40ª Semana Cornélio Pires, em Tietê, e lancei meu livro sobre a “Turma Caipira Cornélio Pires”, em 1999. No livro Patacoadas, trás aquela clássica Entrevista de Cornélio, com Silveira Peixoto. No, Quem Conta um Conto..., tem um resumo biográfico muito rico, e as opiniões do poeta Ricardo Gonçalves, que pertenceu ao grupo Cenáculo, de Monteiro Lobato, e uma carta do grande filólogo João Ribeiro. Conversas ao Pé-do-Fogo e Quem conta um conto..., têm revisão do estudioso (hoje saudoso) Abel Cardoso Junior, e Patacoadas, da professora Maria Elvira Soares.
Por ocasião do relançamento dessas três primeiras obras, durante a 43ª Semana Cornélio Pires, em Tietê, a professora Maria Conceição Dal Bó, então Secretária de Educação do Município, declarou ao jornal “Destaque”, de Tietê (edição de 17/8/2002) que a Prefeitura iria adquirir muitos exemplares:
“Queremos que cada estudante tenha um exemplar de cada obra. É importante que nossa juventude conheça esse grande artista tieteense”.
Na mesma matéria do jornal, traz o seguinte sobre as reedições da obra de Cornélio Pires:
“Segundo Mylton Ottoni da Silveira, proprietário da Ottoni Editora, foi um trabalho intenso e demorado, mas valeu a pena esperar. Todas as obras de Cornélio Pires, o mais autêntico dos caipiras, num total de (18), vão ser relançadas brevemente. As negociações para obter os direitos autorais dos livros levaram 4 anos. Os três primeiros (Conversas ao Pé-do-Fogo, Patacoadas e Quem Conta Um Conto..) vão ser relançados exatamente no dia (24) abertura da Semana Cornélio Pires. Durante a Semana 20% de cada livro vendido será revertido a instituição Casa dos Meninos, criada pelo artista tieteense. A distribuição dos livros na próxima semana, começa exatamente pelo território paulista considerado mais caipira do Estado de São Paulo (Piracicaba, Tietê, Itu, Porto Feliz, Itapetininga até Botucatu). Esse núcleo sempre foi considerado caipira, mas foi onde as tradições permaneceram mais tempo e não sofreram as influências cosmopolita da Capital. E mesmo quando a imigração italiana começou eles trouxeram e se juntaram a sua tradição às nossas. E segundo Ottoni, ninguém melhor do que Cornélio Pires viu isso. ‘Há cinco anos tenho uma vivência muito intensa com a reedição dos livros. Para os tieteenses talvez por terem vivido esse ambiente, o nome de Cornélio Pires ficou muito familiar. Vocês não imaginam o potencial que têm às mãos. Cornélio Pires é o maior manifestante da cultura caipira paulista’, disse”.
Nesse livro Conversas ao Pé-do-Fogo, Cornélio Pires, incluiu o Capítulo Poetas Caipiras, publicado originalmente em 1921, e agora reeditado por Ottoni. Contém um estudo “O Caipira como Ele É”, que projetou-o como grande folclorista – pois Cornélio Pires foi quem melhor estudou a origem do caipira e sua música - onde, fala no caipira branco, descendente dos primitivos ou colonizadores europeus; no caipira caboclo, descendente dos bugres (índios) primeiros povoadores do sertão; no caipira negro (descendente do africano) e no caipira mulato (do cruzamento português com o africano). Daí vem a contribuição dessas etnias com a música caipira. Diz o folclorista:
“A música e o canto roceiros são tristes, chorados em falsete, são um caldeamento da tristeza do africano escravizado, num martírio contínuo do português exilado e sentimental, do bugre perseguido e cativo. O canto caipira comove, despertando impressões de senzalas e taperas. Em compensação, as danças são alegres e os versos quase sempre jocosos”.
Por sua vez, o professor Romildo Sant’Anna, no seu livro A MODA É VIOLA – Ensaio do Cantar Caipira (2000), também enfoca de forma sistematizada essas origens da cultura da Moda Caipira com o romance tradicional Ibérico, difundido pelos colonizadores de Portugal, aliado às contribuições dos escravos africanos e dos indígenas brasileiros. Falando sobre o poeta caipira, ele diz:
“Aprende e aperfeiçoa fórmulas de versejar, no sulco da tradição que, partindo da África e da Europa, atravessou o oceano e se amestiçou aqui com a caipira ameríndia. Identifica-se por uma espécie de rapsodo, qualificado pelas funções de um estradeiro (não raro um boiadeiro), que quer dizer aquele que vê antes, ou vivencia os fatos e os interpreta aos ouvintes)”.
Voltando ao livro “Conversas ao Pé do Fogo”, na apresentação “O Caipira como ele é”, além da parte já mencionada, sobre a conceituação de música e o canto roceiro, que tenho como a melhor definição sobre o assunto; no segundo parágrafo, ele critica alguns intelectuais elitistas que ridicularizavam o nosso caipira.
“O nosso caipira tem sido uma vítima de alguns escritores patrícios, que não vacilam em deprimir o menos poderoso dos homens para aproveitar figuras interessantes e frases felizes como jogo de palavras”.
Prossegue a sua defesa desses pobres caboclos, vilipendiados, explorados por uma sociedade emergente do capitalismo, que já pintava forte naquela época, na década de 1920. Na segunda e terceira página, ele diz sobre os “caipiras”:
“Caipiras.. Mas que são os caipiras? São os filhos das nossas brenhas, de nosso campos, de nossas montanhas e dos ubérrimos vales de nossos piscosos, caudalosos, encachoeirados e inumeráveis rios, “acostelados” de milhares de ribeirões e riachos.
“Nascidos fora das cidades, criados em plena natureza, infelizmente tolhidos pelo analfabetismo, agem mais pelo coração que pela cabeça. Tímidos e desconfiados ao entrar em contato com os habitantes da cidade no seu meio são expansivos e alegres, folgazões e francos; mais francos e folgazões que nós outros, os da cidade. De rara inteligência – não vai nisto exagero – são, incontestavelmente, mais argutos, mais finos que os camponeses estrangeiros. Compreendem e apreendem com maior facilidade; fato, aliás, observado por estrangeiros que com eles têm tido ocasião de privar.
“É fato: o caipira puxador de enxada, com a maior facilidade se transforma em carpinteiro, ferreiro, adomador, tecedor de taquares e guembê, ou construtor de pontes. Basta-lha “uma só” explicação bem clara; ele responderá:
“Se os ôtro fáiz.. proque não hi de fazê!... Não agaranto munto, mais vô exprementá”.
“Euclides da Cunha, construindo a grande ponte metálica de S. José do Rio Pardo, com o material da ponte derribada pelas águas, grandes vigas de ferro contorcidas, instalou vinte ou trinta forjas, transformando simples roceiros em hábeis forjadores e ferreiros”.
“Os caipiras não são vadios; ótimos trabalhadores, têm crises de desânimo quando não trabalham em suas terras e são forçados a trabalhar como camaradas, a jornal. Nesse caso o caipira é, quase sempre, uma vítima.
“O trabalhador estrangeiro tem suas cadernetas, seus contratos de trabalho, a defesa do “Patronato Agrícola” e seus cônsules... Trabalha e recebe dinheiro. Ao nacional, com raras exceções o patrão paga mal e em vales com valor em determinadas casas, onde os preços são absurdos e os pesos arrobalhados; nesse caso o caipira não tem direito a reclamações nem pechinches, está comprando fiado... com o seu dinheiro, o fruto do seu suor, transformando em pedaço de caderneta velha rabiscada a lápis.
“E querem que o brasileiro tenha mais ânimo!”
Ânimo não lhe falta, quando trabalha em suas próprias terras. As algibeiras e o seu crédito nas lojas e vendas o confirmam.
“Deixem os fazendeiros de explorar o nacional, pagando-lhe em moeda corrente; que ele veja e sinta o dinheiro, o seu dinheiro, o fruto do seu labor, e ele será outro...”
Em 2004, a Ottoni reeditou As Estrambóticas Aventuras de Joaquim Bentinho – O Queima-Campo e Sambas e Cateretês. No primeiro, foi incluída aquela brilhante palestra “Cornélio Pires – O Bandeirante do Folclore Paulista, proferida pelo folclorista Alceu Maynard Araújo, e “Tietê e o Culto Corneliano”, do historiador Roberto Machado Carvalho. No segundo, o artigo do jornalista Sérgio Gomes, “O Desconhecido Cornélio”
O hoje saudoso historiador Benedito Pedro Silvestrin (Fuzilo), então Coordenador do Patrimônio Histórico Municipal de Tietê, na 45ª edição da Semana Cornélio Pires, em 2004 quando foram relançadas pelo editor Ottoni, mais essas duas obras do escritor, disse ao jornal A CIDADE, de Tietê (edição de 21/8/2004):
“Somente em suas obras podemos ter uma idéia da imagem do autêntico caipira”.
Nesse livro, Sambas e Cateretês, Cornélio Pires dividiu em seções: Moda de Viola; os Violeiros e seus Gêneros de Modas..; Modas Catireiras; Modas Diversas. Esse livro reeditado por Ottoni em 2004, teve sua 1ª edição em 1932. Então, começou a recolher as “modas”, lá por 1907, conforme registrei no meu livro “Turma Caipira Cornélio Pires”, três anos antes de publicar MUSA CAIPIRA, agora devidamente comprovada neste estudo, no centenário do livro. Pois ele diz no prefácio:
“Há 25 anos, iniciei a colheita de versos rústicos, “inventados” pelos nossos caipiras para os seus fandangos, “funções”, cateretês, sambas, canas-verdes e cururus. Reúno hoje em volume esses versos e outros colhidos depois, conservando-lhes as corruptelas, brasileirismos, regionalismos, defeitos de rimas e, muitas vezes, má metrificação, para não lhes tirar o sabor especial e a cor local”.
Em 2005, Ottoni reeditou, Meu Samburá, com aquela brilhante apresentação do acadêmico Pedro Brasil Bandecchi: “Cornélio Pires, Escritor do Povo”.
Em 2006, reeditou Seleta Caipira, contendo um subtítulo Anedotas, “Causos” e Poesia Caipira (em linguagem dialetal), apresentação de um estudo do saudoso folclorista Rossini Tavares de Lima, “Meu Mundo Caipira de Cornélio Pires”.
Em 2007 o editor ituano, relançou, Chorando e Rindo, Só Rindo e Tarrafadas. Nesse último livro, no Capítulo Poetas Caipiras, que é uma parte com quase vinte páginas, Cornélio Pires mais uma vez prova sua condição de grande folclorista ao dizer:
“Fandangueando por aqui e por ali, por todo o Brasil, amanhecendo em catiras, cururus, sambas, jongos, batuques, canas-verdes, gabirobas, cocos, viuvinhas, são gonçalos, e as mais variadas danças típicas de caipiras, vou colhendo curiosos versos criados pelos poetas-roceiros, colheita que só num próximo livro poderá ser exposta”.
Em 2008, a Ottoni Editora, reeditou Mixórdia. Livro, inicialmente publicado em 1927 que tem um longo Capítulo denominado Poetas Rústicos (caipiras) onde, como fez no livro “Conversas ao Pé do Fogo” (em 1921), volta a dialogar com Nitinho Pintô, Sebastião Camargo e outros violeiros que cantam várias “modas caipiras”. Aqui parece o Sorocabinha, cantando a “Moda do Bão Retiro”. Sorocabinha que viria a participar da “Turma Caipira Cornélio Pires”, organizada pelo folclorista de Tietê, em 1929.
Na época da publicação de “Mixórdia”, entre Cornélio Pires e Monteiro Lobato, houve uma grande polêmica sobre o caipira, que gerou trocas de “farpas” entre ambos, principalmente nos seus próprios livros, conforme registrei no meu livro “Turma Caipira Cornélio Pires”:
“Havia, segundo J. L. Ferrete no seu livro “Capitão Furtado – Viola Caipira ou Sertaneja?”, Prêmio do Concurso Nacional de Monografias do Projeto Lúcio Rangel da FUNARTE, (edição de 1985), um preconceito das elites contra a música caipira. “Caipira era quase um “trastorno cultural” no Brasil, simbolizando pela deprimente figura do Jeca Tatu e por seu modo repleto de rotacismo e lambdacismos no falar”.
“Em resposta às críticas que o autor de “Urupês” fazia, tachando-os de preguiçosos, Cornélio publicou em “Mixórdia”, os versos “Pro Montêro Lobato”. Quintilhas em ABAAB, cantada por Nitinho Pintô:
“Os caipiras deste mato,
não andam de quatro pé.
Não são, Montêro Lobato,
como tu, com feição de gato,
quis pintá nos Urupés”.
“O protótipo do caipira, representado pelo Jeca Tatu (caricaturado pelo Belmonte) era a antítese do Joaquim Bentinho, das Estrambóticas Aventuras..., do Cornélio que, ao contrário daquele, era inteligente, astuto, trabalhador... Lobato mais tarde, mudaria de opinião, em relação ao nosso caipira, no seu “Zé Brasil”.
Todos os livros, reeditados por Ottoni, contêm as tradicionais caricaturas de Cornélio Pires, nas capas dos livros, uma marca registrada do “adorável folclorista de Tietê”, no dizer do escritor Roque Luzzi (Rapsódia Caipira, 1984).
Os próximos lançamentos da exitosa Coleção “Conversa Caipira”, do Editor Ottoni, prevêem os seguintes títulos: O Monturo, Versos, Enciclopédia de Anedotas e Curiosidades e Cenas e Paisagens da Minha Terra. Nesta obra, Cenas e Paisagens da Minha Terra, como também no livro Versos, conforme foi visto, está incluído MUSA CAIPIRA.
Li, um artigo da jornalista Angélica Estrada, na “Revista Campo & Cidade” (Itu, SP, 2006) com o título: “A obra do tietense Cornélio Pires, é um dos mais ricos relatos sobre o caipira”. Ela faz uma retrospectiva sobre a vida e obra de Cornélio e, no final, comemora à sua volta às livrarias, com as reedições, graças à iniciativa do editor Ottoni. E trás em primeira mão, uma grande notícia:
“Por questão estratégica, o primeiro livro de Cornélio Pires, “Musa Caipira”, deixamos para ser o último da coleção porque pretendemos fazer deste título uma edição mais sofisticada, mais elaborada”, adianta o Ottoni”.
Aguardamos com grande expectativa, a reedição de MUSA CAIPIRA, a primeira obra regionalista, publicada por Cornélio Pires, que estamos comemorando o seu CENTENÁRIO.
Risos e Lágrimas e Outros Causos de Cornélio Pires
Uma Edição Especial da Confraria dos Bibliófilos do Brasil, 2009, Brasília, DF, 1ª ed., 112 pp., tiragem de 500 exemplares, capa e ilustrações de Natanael Longo de Oliveira. Trata-se de uma edição comemorativa dos 50 anos da morte de Cornélio Pires (17.2.1958 a 17.02.2008), com apresentação da historiadora sorocabana, Maria Aparecida Almeida Dias de Souza, sobrinha bisneta do escritor tietense. Por ocasião da 51ª Semana Cornélio Pires (em 2010), a ilustre escritora, entregou às autoridades do Município de Tietê, um exemplar da publicação para fazer parte do Acervo de Cornélio Pires. Convém lembrar que, na data do cinqüentenário de morte do escritor, a folclorista Inezita Barroso, apresentou um Especial no “Programa Viola, Minha Viola”, quando compareceu o músico e pesquisador Pedro Henrique Macerani, que era o Secretário de Cultura e falou sobre o homenageado.
Turma Caipira Cornélio Pires
Como admirador da obra de Cornélio Pires e, especialmente, como pesquisador da Música Regional Brasileira, tive a honra e o privilégio de, na década de 1980, quando era estudante de Direito da UFSM de Santa Maria, ter entrevistado os remanescentes da Turma Caipira Cornélio Pires: Mandy e Sorocabinha. Eles participaram também da Turma Caipira Victor (de Piracicaba), da dupla Mandy e Sorocabinha e gravaram mais de 60 modas de viola. Contei com o apoio, do também preocupado com a preservação da memória cultural do nosso País, - o hoje saudoso folclorista João Chiarini (de Piracicaba), que me conseguiu os endereços de Mandy e Sorocabinha. Também, através dele, entrevistei o Cobrinha, O Cantor Patrimônio de Piracicaba, que chegou a participar de uma excursão à Alta Sorocabana, com a Turma Caipira Cornélio Pires.
Essa pesquisa, resultou no meu livro “Turma Caipira Cornélio Pires, Os Pioneiros da Moda da Viola em 1929”, publicado pela Gráfica A Notícia, de São Luiz Gonzaga, em 1999. A primeira moda de viola (autêntica) gravada no Brasil, foi “Jorginho do Sertão”, na voz de Mariano e Caçula (que faziam parte da “Turma”), lançada em outubro de 1929. Conforme registrei no meu livro:
“Em fevereiro de 1929, a Colúmbia lançara no mercado fonográfico os seus discos. Cornélio botou a idéia na cabeça de gravar em disco, as suas anedotas, interpretadas por ele mesmo, e algumas “modas caipiras”, interpretadas por autênticos violeiros da região de Piracicaba. Conhecedor do folclore, sabia que em Piracicaba havia bons violeiros. Residira naquela cidade em 1914. Já conhecia José Sorocaba, Sorocabinha, Sebastiãozinho Camargo e Nitinho Pintô (este falecido em 1926), pois com estes violeiros fizera apresentações na Capital de São Paulo. Conhecia também o trabalho de Mandy, de quem recebera vários poemas, através do seu amigo, o saudoso escritor Thales de Andrade, e publicara em seu livro “Mixórdia” (em 1927), segundo nos informou o velho e saudoso “modinheiro”, de Anhemby que residia em Piracicaba”.
O violeiro Olegário José de Godoy, o Sorocabinha, contando a história da música caipira, no seu depoimento de 6 de maio de 1984 que também está no meu livro, ele disse:
“(...). Havia em Piracicaba um homem que se chamava Benedito Ortiz de Camargo, que tinha diversos apelidos entre os quais: Nitinho Pintô(r), Nitinho Violeiro (pois era ponteador de viola, exímio, além de na época ser considerado lá em Piracicaba o Rei dos Cantadores). Trazia consigo uma medalha de prata, embutida em uma violinha de ouro, troféu que ganhou no Centenário da fundação de Piracicaba. (...). Pois bem: este homem fazia dupla com meu pai, José Sorocaba. Foi com Nitinho que aprendi a tocar viola e também foi ele que me apresentou ao Cornélio Pires em 1924".
Sorocabinha, na entrevista contou que, com dez anos, já cantava e dançava a catira, bate-pé ou cateretê. Ele e seu pai, eram chamados para tocar e cantar nas “festas”. Recordou de quando conheceu Cornélio Pires em 1924, quando foi à Capital paulista, juntamente com Nitinho Pintô, contratados pelo folclorista para cantarem em dupla, no Cine da Praça da República. Cornélio perguntou o nome do seu pai, conforme registrei:
“- José Sorocaba.
Virou-se e disse:
- Ele é o Sorocaba e tu és o Sorocabinha. De hoje em diante, será esse o teu nome artístico!”
Sorocabinha foi, com Cornélio Pires, os grandes pioneiros da Música Caipira. Participou da “Turma Caipira Cornélio Pires” e com Zico Dias, gravaram a moda de viola “Mecê Diz que Vai Casá", de autoria de Nitinho Pintô. Ainda relacionei os nomes dos componentes, quase todos de Piracicaba, com exceção de Arlindo Santana:
“A Turma Caipira Cornélio Pires (em sua 1ª fase) era composta por Arlindo Santana, Sebastião Ortiz de Camargo (Sebastiãozinho), Zico Dias, Ferrinho, Mariano da Silva, Caçula e Olegário José de Godoy (o Sorocabinha). O Sorocabinha com seu pai Juca Sorocaba eram autênticos representantes da cultura caipira. Trabalhavam na roça como lavradores”.
Quando na década de 1980, empreendi essa pesquisa sobre a música caipira, encontrei a maior fonte, em Sorocabinha, que já estava com quase 90 anos de idade. Na entrevista, já citada, registrada no meu livro, ele afirmou que o Cornélio Pires lhe disse:
“A música argentina, o tango, está invadindo São Paulo. Como brasileiros temos que reagir. Não somos contra o tango, mas temos que mostrar a nossa música, a “moda de viola”, ritmo autenticamente nosso”.
Ele, assim como Cornélio Pires, era um ferrenho nacionalista, um profundo conhecedor da música sertaneja de verdade. As duplas sertanejas de sua preferência, eram Tonico e Tinoco, Zico e Zeca e Liu e Léo. No seu depoimento ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo, em 1981, falando sobre o “Filme Vamos Passear?” (de 1934) na época da reorganização da Turma Caipira Cornélio Pires, ele aproveitou para criticar a deturpação da música sertaneja autêntica:
“Tivemos uma semana aqui em São Paulo para filmar. Fizemos um sucesso. Até aquela década não tinha violão, era só viola para a música sertaneja. Violão era da cidade, das serestas, que cantavam em dueto. Hoje tem música sertaneja para todo lugar, mas a verdadeira mesmo é muito pouco que eu conheço”.
Inicialmente, lancei o meu livro na 40ª Semana Cornélio Pires, em Tietê, SP em agosto de 1999. Logo, recebi algumas críticas, porque coloquei um lembrete na capa: 70 ANOS DE MÚSICA SERTANEJA. Não estava errado: música caipira é uma espécie do gênero sertanejo, segundo Zuza Homem de Mello e, além do mais, havia sido comemorado em 1979 em São Paulo o Cinqüentenário da Música Sertaneja. Convém registrar essa definição desse Mestre, conforme o Especial “A Música da Roça (no Globo Rural, 2003), apresentado pelo jornalista José Hamilton Ribeiro. Pois ao ser questionado por Zé Hamilton, o notável historiador da Música Popular Brasileira, assim respondeu:
“A música caipira é um parte da música sertaneja localizada em torno do Estado de São Paulo. A música sertaneja é a música do sertão brasileiro, de todo o sertão brasileiro”.
O mesmo jornalista e historiador Zé Hamilton Ribeiro, publicou posteriormente o livro Música Caipira – As 270 modas de todos os tempos (Editora Globo, 2006) e novamente falando sobre a diferença entre sertanejo e caipira, citou aquele mesmo especialista do assunto, Zuza Homem de Mello, que afirmou em suas pesquisas:
“O gênero sertanejo está em todo o “sertão” brasileiro, seja no Nordeste, do Centro, do Sul, do Sudeste. Já a espécie caipira é música sertaneja do Sudeste, com algum avanço para o Centro-Oeste e uma raspadinha no Sul e no Norte. Assim, música caipira é uma gaveta dentro de um armário, com outras gavetas... A gaveta cabe no armário, o armário não cabe na gaveta”.
Quanto ao primeiro disco de nº 20.006 da Série Caipira Cornélio Pires, contendo uma moda de viola, também digo no livro:
“..de um lado está “Como Cantam Algumas Aves” (imitação de aves) – interpretação do Arlindo Santana (o homem que imitava aves e bichos); e, do outro: “Jorginho do Sertão (moda de viola), com Mariano e Caçula”.
O Sorocabinha tinha orgulho em ter participado da Turma Caipira do folclorista Cornélio Pires. Ele era muito organizado, guardara todos os jornais da época, contendo as apresentações, tanto da Turma Caipira Cornélio Pires, como da Turma Caipira Victor de Piracicaba e também da dupla Mandy e Sorocabinha, o que enriqueceu o meu trabalho de pesquisa, no tocante as fontes primárias, aliados à sua grande memória, comprovadas nas diversas entrevistas que me concedeu, todas transcritas no meu livro. Ele, realmente, ajudou a escrever a História da Música Sertaneja (caipira) no Brasil.
Outra observação: assim como Cornélio Pires, Mandy e Sorocabinha eram artistas comprometidos com sua época, com as causas sociais, que afetavam o nosso caipira, conforme disse no meu livro, falando sobre a moda de viola IMPOSTO DO SELO:
“Tratava-se de uma música revolucionária”. Aliás, a dupla Mandy e Sorocabinha, em seu repertório, possuía várias músicas, nesse estilo. Tinha uma que se chamava A MODA DA CRISE. Essa composição (IMPOSTO DO SELO) é até bastante revolucionária para a época. É bom que se registre, pois há muitos sociólogos que escrevem sobre as “Turmas Caipiras” (a do Cornélio e a da Victor) tachando-as somente de conservadoras, servis ao capitalismo. Nessa letra, Mandy demonstra uma forte preocupação com “o social”, já naquela época. Só quem nunca leu e nunca se preocupou em saber sobre a participação de Cornélio Pires nas lutas sociais, poderá tachá-lo como conservador. Participou da Campanha Civilista de Rui Barbosa, da Revolução de 32, enfim...”
Capa do meu livro sobre a Turma Caipira Cornélio Pires (Foto histórica de 1929 da “Turma Caipira Cornélio Pires” – clichê do jornal “O Estado de S. Paulo”, de 5 de abril de 1929. Foto de 1929 da famosa dupla Mandy e Sorocabinha, que foi pôster-símbolo das solenidades do Cinquentenário da Música Sertaneja (em 1979) medindo 1mx2m, colocado em outdors, da SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA DE SÃO PAULO que também distribuiu um postal da mesma. (Arquivo de Terezinha de Jesus Gomes).
Sorocabinha – Vida e Obra – A Raiz Sertaneja
As filhas de Sorocabinha Terezinha de Jesus Gomes e Maria Immaculada da Silva, também muito colaboraram com material à minha pesquisa. Inclusive, a Maria Immaculada da Silva, ela escreveu um livro com o título de Sorocabinha – Vida e Obra - A Raiz Sertaneja que ainda se encontra inédito. No livro, ela fala tanto sobre a contribuição de Sorocabinha, da dupla Mandy e Sorocabinha, como também no trabalho da Turma de Cornélio Pires e da Turma Victor de Piracicaba, que ela, justamente, participou com seu pai e com suas irmãs Avelina (Lina) e Durvalina. Quando publiquei meu livro “Turma Caipira Cornélio Pires” (em 1999) tive a honra de ter destacado essa obra - “Um livro sobre Sorocabinha”:
“Em 1961, a sua filha Maria Immaculada da Silva escreveu um livro, em dois capítulos: um, sobre a vida de Sorocabinha – infância, adolescência, vida campestre e vida na cidade, os trabalhos que lhe davam sustento; e, outro, sobre a vida artística (o que mais lhe rendeu) ao lado de Cornélio Pires e com a dupla (MANDY E SOROCABINHA). O Sorocabinha escrevia os acontecimentos e ela, depois, relatava e ia montando o livro. Os personagens do livro são autênticos, da época, e fala muito no Cornélio, com detalhes sobre os acontecimentos. Nunca procurou um editor, guarda como tesouro os originais, mas um dia deverá ser divulgado. Pois é a memória cultural do País, que ali está registrado”.
É claro que dali para cá, ela ampliou e revisou o livro, ainda inédito. A importância desse livro, foi destacada num artigo do jornalista Ademir Medici, no jornal Diário do Grande ABC (de São Bernardo do Campo, SP) de 31 de julho de 2009:
“As músicas de Mandi e Sorocabinha são documentos históricos. Usam como temas a crise de 1929 e a Revolução Constitucionalista de 1932, por exemplo, compostas na época dos acontecimentos. Tudo está devidamente documentado num livro inédito com a história de Sorocabinha, de autoria de sua filha, Maria Immaculada da Silva”.
Eleni Destro, jornalista e estudiosa da música caipira, no Jornal de Piracicaba, de 7 de janeiro de 2007, produziu excelente matéria sobre “Diário de Um Caipira”, destacando esse livro de Maria Immaculada da Silva, detalhando os dois Capítulos, o da infância e vida simples na roça e a segunda parte, chamada de Folclore – Música de Raiz – Cornélio Pires. Além disso, fez um apelo para que alguém se interessasse em editá-lo, em razão da sua importância para a memória musical do Brasil. Ainda comentou sobre um outro estudo, destacando a dupla Mandy e Sorocabinha:
“Em seu próximo livro, “Entre o Mel da Cana e o Ponteio da Viola”, que trata da questão dos bóias-frias, a pesquisadora Dinah Castilho, em co-autoria de Wenceslau Castilho, analisa algumas letras da dupla Mandy e Sorocabinha e o seu perfil. Segundo a escritora, autora de “Raízes de Piracicaba na Era da Globalização – Cururu, Catira e Moda de Viola” (CN Editora), a dupla passava a imagem do caipira de forma inteligente e não estigmatizada, valorizando esse personagem. “Eles trabalham a história pelo lado da memória, com cortes bem definidos, um por ser letrado e outro por ser caipira”, diz Dinah”.
Tomara que esse livro de Maria Immaculada da Silva, seja logo editado. Pois irá colaborar com a História da Música Caipira do nosso Brasil, escrito por uma pesquisadora que acompanhou a vida e a obra de Sorocabinha, como também de Cornélio Pires e demais pioneiros. Ela que também pertence a esse grupo de pioneiros, pois participou da Turma Caipira Victor de Piracicaba, em 1929.
Capa do livro inédito de autoria de Maria Immaculada da Silva sobre “SOROCABINHA – Vida e Obra – A Raiz Sertaneja”. Reprodução: Antônio Robson. Reportagem A Música de raízes nas ondas do Diário OnLine, por Ademir Medici. (Jornal Diário de Grande ABC, São Bernardo do Campo, SP: 7 de agosto de 2009).
Tonico e Tinoco e outros seguidores da Turma Caipira
- Música de Raiz
Tonico e Tinoco no livro de “memórias” dizem que ouviam lá em Botucatu, em 1939, a “Moda de Pião (Moda de Viola) com a Turma Caipira de Cornélio Pires. Cantavam a “Moda da Vida” (moda de viola) de Mandy e Sorocabinha. Cantavam a moda de viola Jorginho do Sertão e colecionavam os livros de Cornélio Pires.
É inegável essa influência que A Dupla Coração do Brasil sofreu da Turma Caipira e, especialmente, da dupla Mandy e Sorocabinha ou Olegário e Lourenço. Essa dupla primitiva também influenciou outra grande dupla de renome nacional:
“Assim vale a pena lembrar que Manoel Rodrigues Lourenço e Sorocabinha gravaram um disco que veio a servir de inspiração para a dupla Alvarenga e Ranchinho. Este aspecto é relevante, pois esta dupla se tornaria, indiscutivelmente, uma das mais importantes duplas caipiras do país. Uma das características desta dupla era a forma de produzir letras engraçadas. A dupla chegou a ser presa pelo governo de Getúlio Vargas” (CASTILHO e CASTILHO, 2006).
Nas décadas de 1940, 1950, 1960 e 1970 no auge da música caipira, as rádios de São Paulo, apresentavam, principalmente à noite e de madrugada, fora dos chamados horários nobres, os “programas sertanejos”. Na Rádio Nacional de S. Paulo, tinha o Alvorada Cabocla, apresentado por Nhô Zé, “O Prefeito do Carreador”, com o seu sotaque caipira. Ali foi que começaram a se apresentar as grandes duplas, ainda na década de 60. Lembro do Liu e Léo, Tuta e Tota, Vadico e Vidoco, entre outros. Tinha o Tupi no Sertão, à tardinha, - durante toda a semana - apresentando em cada espaço uma dupla ou um trio caipira. Na década de 1970 apareceu o grande programa Linha Sertaneja Classe A, na Rádio Record, com apresentação de José Russo, que na década de 1980 saiu do ar, entrando em declínio essas programações caboclas.
Inezita Barroso, A Rainha do Folclore Brasileiro, ao ser indagada pelo jornalista e pesquisador Assis Ângelo, na entrevista, publicada no jornal D.O. Leitura (1990) de como andava a música caipira, respondeu:
“Bem, obrigado. Ela jamais desaparecerá. Estão aí Tonico e Tinoco, Vieira e Vieirinha, Liu e Léo e muitos e muitos que não nos deixam mentir. Tião Carreiro e Pardinho também estão aí, firmes. Aliás, foram eles os primeiros artistas do gênero a gravar no tom grave”.
O jornalista e historiador Walter de Sousa, no seu livro “Moda Inviolada – Uma História da Música Caipira” (2005), um dos melhores e mais completos trabalhos sobre a cultura caipira, faz um “Mapa Cultural da Música Caipira”, dividindo em:
“1ª Dentição (década de 1930), tendo como Patrono: Cornélio Pires (Raiz: Tietê), Compositor: Capitão Furtado, intérprete: Alvarenga e Ranchinho e derivação: Tonico e Tinoco". Também incluiu "Raul Torres (Raiz: Botucatu), intérprete: Raul Torres e Serrinha, e com derivação: Torres, Florêncio e Rielli, Serrinha, Caboclinho e Riellinho”.
“2ª dentição (década de 1940) – Consolidação do formato de duplas. Ali estão as duplas influenciadas por Tonico e Tinoco, como Nhô Belarmino e Nhá Gabriela, Palmeira e Piraci, Zico e Zeca, Zé Fortuna e Pitangueira, Vieira e Vieirinha”, entre outros.
“3ª dentição (década de 1950), Sousa destacou “o surgimento das duplas: Zé Carreiro e Carreirinho, Zilo e Zalo, Duo Glacial, Nenete e Dorinho, Zé do Rancho e Zé do Pinho, Luísinho e Limeira, Nonô e Naná, Liu e Léo, Tião Carreiro e Pardinho”, entre outros. Depois, “nas décadas de 60 e 70”, ele fala nas “Influências”, onde diz a “viola é absorvida pela MPB no Jogral, com Luis Carlos Paraná, Theo de Barros e Adauto Santos”. Menciona “novas duplas, algumas autênticas como Pena Branca e Xavantinho” e outras. No entanto, apareceram outras duplas, com influências do rock e de cowboys, nada tendo a ver com nossa música de raiz. Nas “décadas de 80 e 90”, identificou como “Mediações” com a “resistência da tradição original da música caipira, com Inezita Barroso, Tião do Carro, Tonico e Tinoco, Rolando Boldrin”. Alguns “artistas como Sérgio Reis, este oriundo da Jovem Guarda, e outros, passaram a atuar na música caipira”. Surgiram “novos talentos, na essência da música caipira, como Zé Mulato e Cassiano, Rodrigo Mattos”. Também, outros “artistas que fazem MPB com a viola Renato Teixeira, Passoca, Pereira da Viola, Tavinho Moura, Theo de Barros”. Também incluiu “Jair Rodrigues entre outros, que fazem música caipira e MPB”. Depois, ele relaciona o “Sertanejo Romântico”, que para mim, repito, nada tem a ver com a música de raiz. Ainda relaciona, por fim, os da “Viola Instrumental”, entre os quais “Gedeão da Viola, Théo Azevedo, Almir Satter, Roberto Corrêa, Paulo Freire, Ivan Vilela, e que foram redescobertos, como Zé Coco do Riachão, Renato Andrade”, o que eu acrescentaria na lista Zé do Rancho e Nestor da Viola, conforme uma "prosa" que tivemos com o historiador Carmelino Peixoto dos Santos, que está escrevendo um grande livro sobre "Música Caipira e Sua História"..
Projeto Cornélio Pires
A professora e poetisa Maria Ivanete Grando Melaré, como estudiosa da cultura caipira, desde que começou a lecionar em Tietê vem colaborando com a Semana Cornélio Pires. Como docente de literatura na Escola Estadual Plínio Rodrigues de Morais, criou o Projeto Cornélio Pires, no qual vem incentivando os alunos na produção de textos, reescrevendo os poemas e contos do escritor tietense, conservando a linguagem dialetal. No jornal O Democrata de Tietê, de 28 de agosto de 2004 veio detalhado esse Projeto:
“O objetivo dessa iniciativa é tornar a Escola em lugar prazero em que, além de adquirir cultura sobre temais transversais da vivência do aluno, o estudante estará desenvolvendo atividade para a qual tenha aptidão mais acentuada: produção e encenação de textos teatrais, produção de conto ou poema, reprodução de contos em forma de poema, construção de maquetes. Em todas essas modalidades de expressão, deve-se usar a linguagem caipira e abordar temas do homem do campo”.
Ela, como artista, exímia intérprete dos poemas caipiras de Cornélio Pires, também vem auxiliando os estudantes, na interpretação e na encenação desses trabalhos, principalmente para participarem dos Concursos Literários promovidos pela Prefeitura Municipal de Tietê. As suas participações nas Semanas Cornélio Pires, têm sido marcantes, como, por exemplo, na 43ª, de 2002, quando vestida a caráter (como nós gaúchos nos apresentamos nos eventos da nossa tradição), de chapéu de palha e casaco xadrez, interpretando os poemas Peripécia de Viagem, Um Beijo e O Dia de Inleição.
“Peripécias de Viagem” faz parte do livro Musa Caipira. Este poema vem ao encontro do Projeto Cornélio Pires, que é de valorizar a lingüística, pois é carregado de dialeto caipira. Retrata o caipira, atrapalhado na cidade grande, na Capital paulista. Aliás, o próprio Cornélio Pires, já na década de 1940 se preocupava com a preservação da identidade cultural do nosso caipira, o que veio a ser comprovada posteriormente com essa massificação, promovida pela “indústria cultural”. O capitalismo avassalador da cultura popular, no próprio rádio, já havia pintado em nosso País. A historiadora Rosa Nepomuceno (Música Caipira – Da Roça ao Rodeio, 1999) registrou a preocupação do nosso escritor:
“Já nos anos 40, antes de Boldrin, de Inezita ou de Pelão, o escritor e divulgador do universo rural Cornélio Pires reclamava que o caipira não era mais o mesmo. Nem picar mais picava – descobrira na venda o maço dos mata-ratos Fulgor. “Andei por aquelas terras (do interior paulista, mineiro e fluminense) e não encontrei senão vestígios do nosso homem do mato. Quando releio o que escrevi em 1910 sobre ele e confronto com a realidade de hoje, fico triste. O automóvel, o telefone, o rádio invadiram as fazendas e sítios. Acho que são os meios rápidos de comunicação que tiraram o encanto da roça”, queixou-se ao jornalista Galeão Coutinho, em 1942. Para quem tinha naquele mundo sua matéria-prima de trabalho, a constante busca do pitoresco começava, já naquela época, a ser vã. O progresso chegava, engolindo o sertão”.
Então, Projetos, como esse desenvolvido em Tietê, na terra de Cornélio Pires, no sentido de revitalizar a cultura caipira, tem sido de grande importância. Assim como no Rio Grande do Sul, é o trabalho desenvolvido pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e nos diversos Festivais de Música Nativista em vários Municípios, numa luta de preservação de nossa identidade cultural gaúcha. Esse poema, como foi dito faz parte do livro Musa Caipira:
PERIPÉCIAS DE VIAGEM
Imbarquei no trem de ferro,
lá na Villa da Faxina:
o bruto largo seu berro,
sahiu cortano a campina.
De aturdido os óio cerro,
já cheio de ária fina...
Chego in São Pólo. Saio... E’rro
no virá a premera esquina.
Fico meio turtuviado:
gentarada, carro, bonde
e in tuda a parte um sordado.
Fico damnado, se amólo;
vô durmi num sei adonde...
- Nunca venho mais p’ra São Pólo!
O outro poema: “O Dia de Inleição” (também do Musa Caipira), declamado por Ivanete Grando, também em linguagem caipira, mostra que os políticos, “os Coronéis”, das oligarquias rurais, se aproveitavam da ingenuidade do homem rural, e continuam se aproveitando em épocas de eleições. Por isso, a obra de Cornélio Pires, nestes “100 anos de regionalismo”, continua atualíssima. Aliás, basta olhar no livro Patacoadas, cuja primeira edição é de 1927, no Capítulo “Presença de Espírito (a melhor prova de inteligência do caipira é a facilidade com que dá suas respostas)” onde o caipira já na segunda década do Século passado, criticava os políticos. Tem o conto “Boa Definição” para o socialismo (que o caipira chama de “suçalismo”), tem “Ironia”, sobre a comparação dos políticos com o ingazeiro, que diz : “Vacê arrepare: tem parasita inté no úrtimo gaio...”
O DIA DE INLEIÇÃO
- Muita gente na cidade?
- Nem fale, primo Bastião...
Mais de tuda qualidade
tinha gente na inleição!
Fiquei meio atrapaiado:
fui votá co’ Coroné
que pago o dotor formado
que curô minha muié.
Quando chegô nho Travasso,
p’ra quem devo treis favô,
e me pagano p’ro braço,
disse: “Este é meu eleitô”.
Votei co’elle, que fazê?
Mais porém, notra inleição,
o Coroné há de vê
que eu to no seu bataião.
De tardinha, quando eu sube
que ia have u’a cervejada
na casa grande do crube,
fui p’ra lá vê a rapaziada.
Ota povo! Mais que terno!
Tudo era alli bem tratado...
Eta baruio do inferno!
Fiquei meio turtuviado.
A gente ganha sapato,
ganha ropa de argodão,
come frango, como pato,
quano é dia de inleição.
O tar crube é um bão cevêro,
os chefe são cevado,
é gente que tem dinhêro
p’ra garanti o eleitô.
P’ra vancê sê visitado
nos tempo das inleição,
é perciso sê alistado...
Se aliste, primo Bastião.
Também, a participação da professora Ivanete, no Grupo Teatral Luma de Tietê ao lado dos atores Luís Sandei, Carla Furlan, Emerson Santos, Denis Rodman, Corali Cancian, Anderson, Angela e Manoel Santana, na peça “Luar do Sertão”, tem sido importante para resgatar a memória do grande pesquisador do folclore brasileiro. O jornal Destaque (de Tietê de 25/8/2004) trouxe a matéria “Teatro resgata a memória do cronista Cornélio Pires”:
“A peça trata-se de uma comédia de Luís Sandei baseada em contos, anedotas, poemas e histórias do cronista e poeta tietense Cornélio Pires”.
Sarau Literário de Piracicaba
A cidade de Piracicaba realizou uma significativa homenagem ao mestre do conto dialetal e para outros escritores do regionalismo paulista. E foi, justamente, através de uma grande poetisa e ativista cultural, conforme divulgou o jornal Linguagem Viva de SP, na seção Notícias, em julho de 2007:
“Ana Marly de Oliveira Jacobino promoveu Sarau Literário enfocando Cornélio Pires e os escritores caipiras paulistas, no dia 17 de julho, no Espaço Livre, na Rua Moraes e Barros, 1413, Cidade Alta, em Piracicaba”.
O Caipira Segundo Cornélio Pires
Esse foi o título escolhido por um grupo de intelectuais, também em Piracicaba, compostos por Pedro Henrique Macerani (músico e pesquisador), Benedito Pedro Silvestrin-Fuzilo (poeta e pesquisador) – estes dois de Tietê, mais a historiadora e folclorista piracicabana Dinah Castilho (que com seu pai Wenceslau Castilho, também folclorista, são co-autores de grandes livros sobre a cultura caipira), como também houve a participação de atores do grupo Andaime de Teatro da Unimep, que se reuniram, numa “roda de prosa”, no dizer da jornalista Marcela Benvegnu (Jornal de Piracicaba) para “discutir a mais representativa e autêntica figura da cultura popular paulista, o caipira”.
Na referida matéria “Prosa sobre o caipira”, da jornalista Marcela Benvegnu, que também é grande historiadora da cultura popular, assim destacou, esse encontro de músicos, escritores e historiadores que se reuniram no Sesc daquela cidade para esse debate sobre o Caipira Segundo Cornélio Pires, no dia 22 de agosto de 2007:
“Segundo Macerani a noite de hoje apresentará Pires como um grande artista multimídia. “Ele transitou pela literatura, música, teatro e cinema”, fala. “Essa roda de prosa será didática, pois nosso grande objetivo é o de levar conhecimento à população e também o de consolidar a figura de Cornélio Pires no país como o Bandeirante do Folclore Paulista”. O músico também destaca que Pires sempre esteve à frente de sua época pelo fato de ter sido o primeiro artista independente do Brasil. “Hoje, o músico, por exemplo, tem as armas para lançar seu próprio CD. Pires já lançava seus discos, suas poesias e até seus espetáculos na década de 30” .
Por sua vez, o ator Antonio Chapeu, do Grupo Andaime, na sua manifestação já anunciava a pesquisa que realizaram sobre a obra de Cornélio Pires, que seria tema para o próximo espetáculo teatral, que ainda estava sem título definido, mas seria As Patocoadas de Cornélio Pires, como veremos a seguir.
As Patacoadas de Cornélio Pires
O grupo teatral Andaime da UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba) em 2008 estreou com sua trupe o Espetáculo “As Patacoadas de Cornélio Pires – Estropolia Musical em Dois Atos e Uma Chegança”. A pesquisa e montagem, tem direção de Luís Carlos Laranjeiras. De acordo com Antônio Chapéu, coordenador do grupo (“Calendário Acadêmico”), uma das finalidades é sobre a identificação do homem rural:
“O Andaime pretende questionar, por meio da arte, a preservação da própria identidade”.
No jornal Tribuna da Região (cidade: Jaboticabal, 2009) também informa que esse espetáculo teatral tem como base a identidade da cultura regional, na obra do escritor paulista:
“As Patacoadas de Cornélio Pires aborda a cultura caipira, tendo como base a vida e as obras do folclorista e escritor Cornélio Pires. A peça tem o intuito de promover um dinâmico diálogo entre o passado e presente da cultura caipira, de modo a evidenciar uma cultura interiorana que sobrevive à urgência tecnológica”.
Ainda em 2008 a peça teatral apresentou-se na 49ª Semana Cornélio Pires, como parte da programação das homenagens ao autor de Patacoadas. Em 2010 chegou a vez de Cerquilho, município que faz divisa com Tietê, de receber no seu Teatro Municipal, esse já consagrado espetáculo, com toda a renda revertida em materiais para o Lar São José daquela cidade, indo ao encontro da uma das virtudes de Cornélio Pires, de promover a caridade.
O Brasil Caboclo de Cornélio Pires
Numa merecida homenagem a Cornélio Pires, o pioneiro da gravação da música rural no Brasil, o Centro Cultural Banco do Brasil, sob a direção artística e musical do violeiro Ricardo Vignini (O Matuto Moderno), promoveu em 2007, encontros inéditos entre os grandes nomes da música caipira de raiz.
Em Brasília, DF, realizaram-se os seguintes shows, nesse Projeto, no mês de abril daquele ano, com As Galvão e Zé Mulato e Cassiano; Carreiro e Carreirinho e Jacó e Jacozito; Índio Cachoeira e Cuitelinho e Pedro Bento e Zé da Estrada; e Oliveira e Olivaldo e Os Favoritos da Catira.
O evento teve apresentação do Passoca, que no Projeto, encarou o pioneiro Cornélio Pires. Em São Paulo, a programação foi nos meses de junho e julho e, além desses artistas já mencionados que se apresentaram em Brasília e repetiram a dose dupla, também se apresentaram Liu e Léo, João Mulato e João Carvalho e Cacique e Pagé.
Ricardo Vignini, diretor artístico e musical do Projeto, grande estudioso da cultura popular brasileira, depois de comentar que Cornélio foi um “caipira multimídia”, no começo do Século XX publicando seus livros, produzindo filmes, fazendo apresentações em teatros e circos e, finalmente, destaca o seu pioneirismo em 1929:
“Se não fosse Cornélio Pires, talvez nem conhecêssemos a viola em disco, como acontece com a viola braguesa campaniça e outros instrumentos portugueses que quase não existem mais, porque tornaram-se do uso exclusivamente na música folclórica, não chegando ao grande público”.
Brasil Clássico Caipira
O show “Brasil Clássico Caipira, uma realização do Circuito Cultural Banco do Brasil Itinerante, passou por Porto Alegre, São Luís, Vitória, Belém e Campo Grande, apresentando ricos acervos da nossa música caipira brasileira.
No Projeto, se apresentaram: os cantores Pena Branca, Genésio Tocantins, Dércio Marques, As Galvão, que apresentaram releituras com arranjos elaborados, num encontro das veredas do sertão sonoro, numa simbiose entre a tradição e erudição.
A direção musical esteve a cargo do produtor e maestro Rildo Hora. No repertório, clássicos, como Tristeza do Jeca, Moreninha Linda, Saudade da Minha Terra, João de Barro, Romaria, Luar do Sertão, entre outras, com arranjos de violino, viola clássica, etc.
O Projeto Brasil Clássico Caipira, foi em comemoração aos 80 anos da gravação da primeira música caipira autêntica, a moda de viola Jorginho do Sertão, lançada em outubro de 1929, por Caçula e Mariano que eram componentes da Turma do Cornélio Pires. O Jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, edição de 20 de agosto de 2009 fez referência a essa comemoração cultural:
"Para registrar e valorizar a data dessa importante vertente da música brasileira, a produtora Mercado Cultural idealizou o projeto Brasil Clássico Caipira”.
80 Anos da Música Caipira no Brasil
O cantor e compositor Téo Azevedo, com vários discos (LPs e CDs) gravados, autor de dez livros sobre a cultura popular, especialmente do Norte de Minas, também prestou sua homenagem ao pioneirismo de Cornélio Pires. Esse importante trabalho foi registrado no Jornal Sertanejo, de junho de 2010:
“Em 2009, temos um marco histórico: 80 anos atrás, Cornélio Pires, grande divulgador da música e do universo rural, gravava os nossos primeiros discos de música caipira. Para comemorar, temos o lançamento do disco “80 Anos da Música Caipira no Brasil”. À frente dessa iniciativa, temos o cantador, violeiro, cordelista, repentista e outro grande divulgador da cultura popular brasileira, Téo Azevedo”.
O CD foi lançado pela gravadora “NANY CDS” e reuniu os grandes artistas: Sérgio Reis, Rodrigo Mattos e Praiano, Mococa e Paraíso, Dedé Paraízo, Família Dias, Lourenço e Lourival, o próprio Téo Azevedo, Leyde e Laura, Tom Viola e Antonio Rodrigues, Saulo Laranjeira, José Paulo Medeiros, Ivana Calado, Elói Carbone, Valdo & Vael e Rodrigo Azevedo.
Téo Azevedo, como grande poeta e cantador, além dessa grande homenagem, como pesquisador de uma das expressões mais significativas da cultura do povo, que é a música popular regional brasileira, também lançou o livro “O Cordel dos 80 Anos da Música Caipira no Brasil”. No site do jornal Gazeta Norte Mineira, na matéria “Téo Azevedo e a música caipira do Brasil” (está sem o nome do articulista, por isso não tem como mencionar quem o escreveu), foi registrado mais essa contribuição do grande folclorista:
“Agora ele lança um livro: “O Cordel dos 80 Anos da Música Caipira do Brasil”, escrito em oitavas onde ele descreve os trios, as duplas e os cantores solo da música caipira brasileira. Também ele cita algumas músicas que fizeram sucesso e que ainda trazem saudosas lembranças. A data de sua pesquisa remonta os anos quarenta e finge que termina nos dias atuais”.
Fundação Folclórica e Cultural Cornélio Pires
- (Relançamento dos seus discos e filmes)
Em Tietê, o compositor e historiador Pedro Henrique Macerani, ex-Secretário de Cultura do Município, depois de três anos garimpando pelo Brasil, conseguiu resgatar a coleção completa da Discografia de Cornélio Pires, e se lançou a mais um corajoso Projeto, - o de montar a Fundação Folclórica e Cultural Cornélio Pires, tendo como principais objetivos o relançamento dos seus discos e dos seus filmes. Na correspondência eletrônica, de 22 de março de 2010 ele me deixou muito contente ao dizer:
“O seu livro sobre a Turma Caipira Cornélio Pires, foi de grande valia às minhas pesquisas de resgate da obra, de 1929, em áudio. Na verdade, foi o meu ponto de partida”.
Parabéns ao povo de Tietê, que graças ao espírito empreendedor de Pedro Henrique Macerani, deverá muito em breve estar funcionando a Fundação, que, com toda certeza, ajudará a manter viva a memória cultural de Cornélio Pires e do Autêntico Regionalismo Paulista e Brasileiro.
Cornélio Pires em “sites” sobre a Cultura Caipira
É inegável que a INTERNET, nos tempos atuais, assim como o rádio e o jornal se tornou uma mídia importantíssima. Tem o site Petra Editorial (www.petralivros.com.br), da escritora e jornalista Mercê Rocha, que na série “Pé Vermeio”, reeditou os poemas caipiras do Nhô Bentico (autor do clássico “Pitoco”) e vem divulgando a “Coleção Caipira”, dos livros de Cornélio Pires, por Ottoni Editora. Vejamos alguns “sites” que divulgam a cultura caipira e a obra de Cornélio Pires, inclusive, seus livros, reeditados por Ottoni: “Cornélio Pires, Um Marco na Cultura Sertaneja” (www.widesoft.com.br), de Paulo Roberto Moura Castro; “Boa Música Brasileira” (www.boamusicaricardinho.com), de Ricardinho; e “Recanto Caipira” (www.recantocaipira.com.br), de Sandra Cristina Peripato.
Outros bons sites, divulgando a obra de Cornélio Pires: “Viola Tropeira” (www.violatropeira.com.br), de Ricardo Anastácio; “Os Reis do Cururu” (www.osreisdocururu.com.br), de Fabio Porangaba; “Kleuton & Karen – Genuinamente Caipira” (www.kleutonekaren.com.br), de Kleuton & Karen; “Saudade Sertaneja” (http://saudadesertaneja.blogspot.com), de Tião Camargo; “Prosa Caipira – tudo sobre a cultura e música sertaneja” (www.prosacaipira.com.br), do Zé Caipira; “Rádio Viola de Ouro – 24 horas de Música Caipira” (www.radiovioladeouro.com), de JC & Toninho; “MEMÓRIA-DIÁRIO DO GRANDE ABC – A História de Sorocabinha descoberta em São Bernardo” (www.dgabc.com.br), de Ademir Medici; “Luciano Queiroz – Luthier - Transformando o que a natureza criou em arte” (www .lucianoqueiroz.com); “Viola Caipira – A Revista Oficial dos Violeiros” (http://revistaviolacaipira.com.br), de Pedro Lemos Barbosa (Pinho); “Mensagem do leitor: Mandi e Sorocabinha” (www.franklinmartins.com.br), de Franklin Martins; “Modas e Viola” (http://adonato.wordpress.com.br) de Ari Donato; “A Arte do Meu Povo” (http://aartedomeupovo.blogspot.com), de Nivaldo Cruz: “A Nossa Música Raiz” (http://mazinhoquevedo.com.br/blog/blog1.php/2010/8/31/a-nossa-musica-raiz), de Mazinho Quevedo, entre outros, é claro.
Todos esses estudiosos da cultura caipira e, especialmente da obra de Cornélio Pires, saibam da nossa admiração e reconhecimento pelo relevante serviço prestado à memória cultural do nosso País, neste ano de 2010 que estamos comemorando o CENTENÁRIO do lançamento de MUSA CAIPIRA, o primeiro livro de Cornélio Pires, o grande marco inicial da poesia e da música caipira no Brasil.
Não poderia encerrar este trabalho, sem mais uma vez citar o Mazinho Quevedo que, novamente em 31 de agosto de 2010 no seu blog “A Nossa Música Raiz”, destacou: “2010 faz 100 anos de Musa Caipira, 90 anos do Dialeto Caipira (do Amadeu Amaral) e 81 anos da primeira gravação!!!” (da música caipira, da moda de viola pela Turma Caipira do Cornélio Pires). Estamos aí cada vez mais juntando a família em nossa volta!! Quer orgulho maior!!!” Valeu a lembrança, grande violeiro Mazinho, não é meu irmão de arte e pesquisa da música regional brasileira de Sul a Norte, Maikel Monteiro! Portanto, com MUSA CAIPIRA - 100 Anos de Regionalismo da cultura caipira e brasileira, com muita honra!
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Colaboradores:
Alexandre Pignanelli
Ana Marly de Oliveira Jacobino
Antonio Mortarelli
Clodoaldo de Morais
Diva Maria Hernandez (Lili)
Hélio Xavier da Silva
Iria Marly G. Rodrigues Coelho
Luiz Américo Lisboa Junior
Luiz de Campos Paladini
Marcelo Nastari Milanez
Maria Aparecida Almeida Dias de Souza
Maria Immaculada da Silva
Maria Inês Alves Borges de Andrade
Maria Ivanete Grando Melaré
Mercês Rocha
Miguel Ângelo de Azevedo - NIREZ
Olga Amorim
Pedro Henrique Macerani
Ricardo de Albuquerque
Rodrigo Alves
Tamiko Shimizu
Terezinha de Jesus Gomes
Thais Matarazzo |