Catulo da Paixão Cearense, nasceu em São Luís, no estado do Maranhão em 08 de outubro de 1863 e faleceu no Rio de Janeiro/RJ em 01 de maio de 1946. Morou no estado do Ceará dos 10 aos 17 anos de idade.
Em 1880, seguiu com a família para o Rio de Janeiro. Com flauta e violão freqüentava as rodas dos estudantes cariocas, o que não era visto com bons olhos pelo seu pai que era dono de uma loja de ourives e relojoaria.
Na época, o violão era desprezado e perseguido, sinônimo de malandragem, e na época de Catulo, foi adquirindo prestígio nos salões da elite.
Grande parte do trabalho de Catulo da Paixão Cearense foi voltada às modinhas e serestas, tendo como maior destaque a música "Luar do Sertão".
Ao que consta, nenhum intérprete gravou até hoje "Luar do Sertão" na íntegra, já que esse poema possui um total de 12 estrofes mais o refrão. O poema originalmente ocupava todo o conteúdo de um livro.
Eis a seguir a letra de "Luar do Sertão" (Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco), com 12 estrofes e o refrão:
Oh! Que saudades do luar da minha terra
Lá na serra branquejando folhas secas pelo chão!
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade do luar lá do sertão.
Não há, oh gente, oh! não,
Luar como esse do sertão!
Se a lua nasce por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata prateando a solidão.
E a gente pega na viola que ponteia,
E a canção é a lua cheia a nos nascer no coracao!
Não há, oh gente, oh! não,
Luar como esse do sertão!
Quando vermelha no sertão desponta a lua
Dentro d'alma onde flutua também rubra nasce a dor!
E a lua sobe e o sangue muda em claridade
E a nossa dor muda em saudade branca... assim... da mesma cor.
Não há, oh gente, oh! não,
Luar como esse do sertão!
Ai!... Quem me dera que eu morresse lá na serra,
Abraçado à minha terra e dormindo de uma vez!
Ser enterrado numa grota pequenina,
Onde à tarde, a sururina chora a sua viuvez!
Não há, oh gente, oh! não,
Luar como esse do sertão!
Diz uma trova, que o sertão todo conhece,
Que se, à noite, o céu floresce, nos encanta, e nos seduz,
É porque rouba dos sertões as flores belas,
Com que faz essas estrelas lá do seu jardim de luz!!
Não há, oh gente, oh! não,
Luar como esse do sertão!
Mas como é lindo ver, depois por entre o mato
Deslizar calmo, o regato, transparente como um véu,
No leito azul das suas águas, murmurando,
Ir por sua vez roubando as estrelas lá do céu!
Não há, oh gente, oh! não,
Luar como esse do sertão!
A gente fria desta terra sem poesia
Não se importa com esta lua nem faz caso do luar!
Enquanto a onça, lá na verde capoeira,
Leva uma hora inteira, vendo a lua a meditar!
Não há, oh gente, oh! não,
Luar como esse do sertão!
Coisa mais bela neste mundo nao existe
Do que ouvir um galo triste no sertão se faz luar.
Parece até que a alma da lua é que descanta,
Escondida na garganta desse galo a soluçar!
Não há, oh gente, oh! não,
Luar como esse do sertão!
Se Deus me ouvisse com amor e caridade,
Me faria esta vontade o ideal do coração.
Era que a morte a descantar me surpreendesse
E eu morresse numa noite de luar no meu sertão!!
Não há, oh gente, oh! não,
Luar como esse do sertão!
E quando a lua surge em noites estreladas,
Nessas noites enluaradas, em divina aparição,
Deus faz cantar o coração da Natureza,
Para ver toda beleza do Luar do Maranhão.
Não há, oh gente, oh! não,
Luar como esse do sertão!
Deus lá no céu, ouvindo um dia, essa harmonia,
A canção do meu sertão, do meu sertão primaveril,
Disse aos arcanjos que era o Hino da Poesia,
E também a Ave-Maria da grandeza do Brasil.
Não há, oh gente, oh! não,
Luar como esse do sertão!
Pois só nas noites do sertão de lua plena,
Quando a lua é uma açucena, é uma flor primaveril,
É que o Poeta, descantando a noite inteira,
Vê, na Lua Brasileira, toda a alma do Brasil.
Não há, oh gente, oh! não,
Luar como esse do sertão!
A vivência do Catulo Sertanejo com as noites de “Luar do Sertão” foi apenas naquele período dos 10 aos 17 anos em que ele viveu no Ceará. Ele era na verdade um homem da cidade, no entanto, cantava a natureza, nossa terra e nossa gente. Tinha o mérito de não conhecer o sertão, porém descrevê-lo de modo admirável.
Catulo era poeta, e possuía uma singular habilidade de encaixar versos em qualquer melodia conhecida. Não tivesse sido a composição dos versos de Catulo, muitas dessas belíssimas músicas instrumentais teriam caído logo no esquecimento, apesar de tão bem compostas e do indiscutível valor que possuem em termos de melodia.
Catulo morava em uma casa bem simples, de madeira, no bairro carioca Engenho de Dentro (o mesmo bairro onde nasceu e se criou Orlando Silva, o célebre Cantor das Multidões), residência essa à qual deu o nome de “Palácio Choupanal”. E não se acanhava em receber visitas de grandes nomes das Letras, das Artes e da Política. Ao falecer em 01 de maio de 1946, já tinha assistido à inauguração de seu busto e era uma indiscutível Glória Nacional.
Texto: Sandra Cristina Peripato |